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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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SÃO PAULO, SP

A cidade de São Paulo, embora encontre-se nos patamares mais elevados de desenvolvimento econômico do país, assistiu na última década, juntamente com o Estado, à deterioração de alguns indicadores de qualidade vida. O recente relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), parece sugerir que o antigo modelo de metrópole industrial que marcou a ascensão da "locomotiva" paulista tem sido atingido pela mudança nos parâmetros econômicos ocorrida não apenas internamente mas também em escala global.
Essa é uma das explicações possíveis para a elevação da pobreza e da indigência da metrópole em contraste com situações regionais de menor concentração urbana e industrial. Enquanto no conjunto dos municípios brasileiros caiu o número de indigentes e pobres, em São Paulo ele subiu de forma expressiva entre os anos de 1991 e 2000.
Não é casual que esse período coincida com o recrudescimento de um processo de transformação da economia, que gerou retração no uso de mão-de-obra, "desindustrialização" e baixos índices de crescimento. O Brasil, que cresceu a taxas elevadas até o final dos anos 70, passou a gerar resultados decepcionantes nas duas últimas décadas, como já havia detectado o também recente estudo do IBGE sobre o século 20.
Embora diversos fatores tenham contribuído para esse cenário, é uma constatação que o baixo rendimento da economia coincide com o ajuste implantado no país com vistas a inseri-lo na nova ordem global. Se houve avanços a registrar, também uma série de problemas se agravou. De certa forma as dificuldades se cristalizam no alto endividamento público, que tem exigido políticas defensivas e de geração de elevados superávits nas contas governamentais. Esse quadro teria provocado impactos mais dramáticos em São Paulo, por ser a maior concentração urbana e industrial do país.
É essa a hipótese do economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp e secretário do Trabalho da prefeitura paulistana. Ele acredita que a liberalização econômica, o ajuste fiscal e a diminuição do Estado teriam afetado de modo mais importantes as cidades mais ricas, especialmente São Paulo. Isso poderia ser demonstrado, entre outros aspectos, pela maior transferência de receitas tributárias para a União, a redução do Orçamento do município (de R$ 17 bilhões em 1992 para R$ 11 bilhões este ano), bem como pela crise na oferta de emprego.
A nova ordem econômica e a persistência do baixo crescimento indicam que seria irrealista nutrir ilusões nostálgicas sobre um retorno de São Paulo aos antigos padrões de acumulação de capital e expansão industrial. Isso não significa que a cidade tenha se tornado um caso cronicamente inviável. Ao contrário, é possível supor que a metrópole ainda reúna energias e recursos para se adaptar à nova realidade e conter a deterioração de seus índices de desenvolvimento humano. Se conseguirá, de fato, fazê-lo, só o tempo dirá.


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