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Pacto pela Amazônia
ONGs apresentam plano pragmático para zerar em 7 anos a taxa de desmate, ao custo anual de R$ 1 bi; governo promete avaliar
POUCOS brasileiros defenderiam o desmatamento
da Amazônia. Como todo
consenso, este também
começa a esgarçar-se quando
deixa a praia das boas intenções
rumo ao pântano dos custos e
sua repartição. Nenhum dono de
terras da região aceitará abrir
mão do direito de desmatar 20%
da propriedade, assim como povos indígenas não admitirão sem
compensações o alagamento de
terras demarcadas para encher
um reservatório de hidrelétrica.
Com alguma criatividade e empenho, porém, é possível desenhar soluções de desenvolvimento regional em que muitos
saiam ganhando com a preservação da floresta. Como o desflorestamento representa 75% da
contribuição brasileira ao aquecimento global, e o tema vem ganhando destaque no debate público, o momento parece propício para dar um passo concreto,
como a adoção de metas de redução de desmatamento.
Foi o que propuseram anteontem nove organizações não-governamentais nacionais e estrangeiras: um Pacto pela Valorização da Floresta e pelo Fim do
Desmatamento na Amazônia.
Com pragmatismo, estimaram
que zerar a devastação demandará um prazo de sete anos.
Exibindo disposição para falar
a linguagem dos empresários, as
ONGs encomendaram a economistas um estudo sobre a conta
da preservação almejada. Teve
grande peso no cômputo o custo
de oportunidade da terra, ou seja, o que agricultores deixam de
ganhar ao manter a terra florestada, em vez de cultivá-la. O cálculo indicou o máximo de US$
1,33 por tonelada de CO2 que deixa de ser emitido quando a mata
permanece de pé (após a derrubada, madeira, folhas e raízes
acabam em parte convertidas,
por queima ou apodrecimento,
em CO2, engrossando o "cobertor" que mantém a atmosfera
aquecida).
O estudo projeta ainda o investimento anual necessário (R$ 1
bilhão) para obter reduções sucessivas nas taxas de desmatamento. Mais que isso, elenca várias fontes para custear tal inversão, do Orçamento da União à
comercialização no mercado livre internacional de créditos de
carbono gerados com a economia de emissões de CO2.
O dinheiro amealhado constituiria um fundo que as nove
ONGs pretendem ver sob a alçada do BNDES. Parte dos recursos angariados seria destinada
aos Estados cumpridores das
metas de redução, para compensar agricultores que renunciassem ao desmate.
Outra parte serviria para melhorar a ação de fiscais ambientais, ou para manter unidades de
conservação, como parques e estações ecológicas.
Sinal de que a semente do pacto pode ter caído em solo fértil
foi seu lançamento no Congresso Nacional, na presença de figuras públicas que ocupam campos
opostos no debate, como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o governador sojicultor de Mato Grosso, Blairo Maggi. Ambos evitaram comprometer-se com o plano, mas elogiaram a iniciativa. É um começo.
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