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CARLOS HEITOR CONY
Sempre uma festa
RIO DE JANEIRO - Mais uma
eleição em nível municipal. Não
deixa de ser uma festa toda vez que
o cidadão exerce o seu direito de votar. Não sou exatamente um devoto
da forma pela qual são escolhidos os
representantes do povo. Espero
que a criatividade do gênio humano
descubra um sistema democrático
que supere os trancos e barrancos
do financiamento das campanhas
eleitorais -ponto de partida e de
chegada dos mil acidentes da nossa
vida pública.
Quero apenas lembrar a primeira
eleição na qual tive o direito de votar. O Estado Novo havia desmoronado, e os cidadãos foram convocados a formar as Câmaras de Vereadores que substituiriam os antigos
Conselhos Municipais.
Aqui no Rio, foram eleitos como
edis (um pseudônimo erudito de
vereador) gente da pesada, inclusive alguns nomes que já estavam na
história do Brasil, como João Alberto Lins e Barros, que fora interventor em São Paulo, Agildo Barata,
ambos do grupo de tenentes que
havia feito a Revolução de 30.
E havia muitos que fariam história a partir desta primeira eleição
pós-ditadura: Carlos Lacerda,
Adauto Lúcio Cardoso, Napoleão
Alencastro Guimarães, Osório Borba, Aparício Torelly (Barão de Itararé), Otávio Brandão, Ary Barroso,
Gama Filho, o poeta Jorge de Lima,
que estava dando o toque final em
sua "Invenção de Orfeu".
Não cito esses nomes para forçar
uma comparação com os atuais
candidatos. Os tempos eram outros, uma longa ditadura se esboroara e aquilo que foi chamado de
"banquete democrático" motivou
pretendentes de alto coturno. O hábito parece que banalizou a disputa
eleitoral mais próxima do cidadão,
que nasce, vive e morre num
município.
Volto a repetir: hoje é um dia de
festa. Que tudo corra bem e haja outras para todo o sempre.
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