São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2001

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VINICIUS TORRES FREIRE

Assim patina a humanidade

SÃO PAULO - O que é o progresso. Para 85% dos norte-americanos, a morte de civis afegãos na guerra é inevitável. Na guerra do Vietnã, os universitários norte-americanos cantavam "Hey, LBJ (el-bi-djei), how many kids have you killed today (Ei, LBJ, quantas crianças você matou hoje?)".
LBJ era Lyndon Baines Johnson, presidente democrata (1963-69), sucessor de Kennedy. Texano caipira como Bush, sob seu governo criaram-se grandes programas sociais, que Bush quer detonar de vez, e libérrimas leis de direitos civis, nos quais Bush acaba de enfiar os dentes.
LBJ enterrou o pé dos EUA na lama do Vietnã, onde morreram 50 mil americanos e centenas de milhares de vietnamitas, sob chuva de armas químicas e bombardeios ao léu. Naquele tempo, o brucutu e general William Westmoreland, comandante no Vietnã, dizia que oriental, amarelo, "essa gente" não tem o mesmo amor à vida que um ocidental. Agora, o Vietnã oferece seus operários baratinhos à indústria dos EUA.
Os universitários americanos hoje parecem tão conservadores como a maioria dos jovens de qualquer lugar, nem ligam muito para a vida de afegãos. Civis estão morrendo às dezenas, em ataques sem nenhum sentido ou direção conhecidos, diz a Human Rights Watch (que, atenção, condenou a demência dos ataques aos EUA). É crime de guerra. O Taleban diz que os mortos já passam do milhar. Pode até ser. O Taleban entende muito de cadáveres. Executa e faz limpeza étnica à larga.
Os EUA, antes uma surpresa de sobriedade, já apelam à grossura. Os falcões do Departamento de Defesa levam a melhor sobre o Departamento de Estado. A estratégia de envolver ONU, países da região e facções afegãs em acordo é substituída pelos sinistros B-52. Apesar da censura, há rumor sério de que "tropas especiais" dos EUA levaram tundas de talebans enfurecidos e que os EUA vão combater junto da Aliança do Norte (quase tão facinorosa quanto o Taleban).
Vão acabar com o terrorismo? Não.



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