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VINICIUS TORRES FREIRE
Assim patina a humanidade
SÃO PAULO - O que é o progresso. Para 85% dos norte-americanos, a morte de civis afegãos na guerra é inevitável. Na guerra do Vietnã, os universitários norte-americanos cantavam
"Hey, LBJ (el-bi-djei), how many kids
have you killed today (Ei, LBJ, quantas crianças você matou hoje?)".
LBJ era Lyndon Baines Johnson,
presidente democrata (1963-69), sucessor de Kennedy. Texano caipira
como Bush, sob seu governo criaram-se grandes programas sociais, que
Bush quer detonar de vez, e libérrimas leis de direitos civis, nos quais
Bush acaba de enfiar os dentes.
LBJ enterrou o pé dos EUA na lama
do Vietnã, onde morreram 50 mil
americanos e centenas de milhares
de vietnamitas, sob chuva de armas
químicas e bombardeios ao léu. Naquele tempo, o brucutu e general William Westmoreland, comandante
no Vietnã, dizia que oriental, amarelo, "essa gente" não tem o mesmo
amor à vida que um ocidental. Agora, o Vietnã oferece seus operários
baratinhos à indústria dos EUA.
Os universitários americanos hoje
parecem tão conservadores como a
maioria dos jovens de qualquer lugar, nem ligam muito para a vida de
afegãos. Civis estão morrendo às dezenas, em ataques sem nenhum sentido ou direção conhecidos, diz a Human Rights Watch (que, atenção,
condenou a demência dos ataques
aos EUA). É crime de guerra. O Taleban diz que os mortos já passam do
milhar. Pode até ser. O Taleban entende muito de cadáveres. Executa e
faz limpeza étnica à larga.
Os EUA, antes uma surpresa de sobriedade, já apelam à grossura. Os
falcões do Departamento de Defesa
levam a melhor sobre o Departamento de Estado. A estratégia de envolver
ONU, países da região e facções afegãs em acordo é substituída pelos sinistros B-52. Apesar da censura, há
rumor sério de que "tropas especiais"
dos EUA levaram tundas de talebans
enfurecidos e que os EUA vão combater junto da Aliança do Norte (quase
tão facinorosa quanto o Taleban).
Vão acabar com o terrorismo? Não.
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