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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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A LEI PÓS-TALEBAN

Dois anos depois de os aviões norte-americanos terem despejado toneladas de bombas sobre o seu território, o Afeganistão apresentou seu anteprojeto de Constituição. Trata-se de um avanço, mas seria inexato afirmar que o Afeganistão se tornou um lugar muito melhor depois da queda do Taleban. Além do esboço de Constituição, a deposição da milícia islâmica que controlava o país foi o grande fato positivo da guerra. Mulheres puderam voltar a sair às ruas desacompanhadas e a trabalhar. Música, cinema, futebol e outras diversões proscritas voltaram à legalidade. A vigilância do outrora onipresente Ministério da Prevenção do Vício e da Promoção da Virtude felizmente desapareceu.
As boas notícias, porém, param por aqui. Como no Iraque, há um terrível problema de segurança. Exceto pela capital, Cabul, onde forças da ONU mantêm a ordem, o país está dominado por senhores da guerra -inclusive alguns talebans- que comandam "manu militari" suas regiões e se envolvem em disputas interétnicas com seus vizinhos. O quase nada de infra-estrutura que existia no país ficou ainda mais arrasado pelos bombardeios norte-americanos. Pouco dinheiro foi prometido para a reconstrução (US$ 4,5 bilhões em dois anos). Só o que cresce rapidamente no país hoje são as plantações de papoula para a produção de ópio e heroína, que haviam praticamente desaparecido sob o Taleban.
Mesmo o anteprojeto de Constituição enseja algumas dúvidas. O texto, como não poderia deixar de ser, dá grande ênfase ao componente islâmico da sociedade afegã. Talvez demais. Há uma passagem que reza: "No Afeganistão, nenhuma lei pode ser contrária à sagrada religião do islamismo e aos valores desta Constituição". Há quem veja aí a possibilidade de retorno de um Estado teocrático. É um banho de água fria para aqueles, principalmente em Washington, que acreditavam que seria possível criar, a partir da invasão, um Estado laico e democrático.


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