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A LEI PÓS-TALEBAN
Dois anos depois de os aviões
norte-americanos terem despejado toneladas de bombas sobre o
seu território, o Afeganistão apresentou seu anteprojeto de Constituição.
Trata-se de um avanço, mas seria
inexato afirmar que o Afeganistão se
tornou um lugar muito melhor depois da queda do Taleban. Além do
esboço de Constituição, a deposição
da milícia islâmica que controlava o
país foi o grande fato positivo da
guerra. Mulheres puderam voltar a
sair às ruas desacompanhadas e a
trabalhar. Música, cinema, futebol e
outras diversões proscritas voltaram
à legalidade. A vigilância do outrora
onipresente Ministério da Prevenção
do Vício e da Promoção da Virtude
felizmente desapareceu.
As boas notícias, porém, param
por aqui. Como no Iraque, há um
terrível problema de segurança. Exceto pela capital, Cabul, onde forças
da ONU mantêm a ordem, o país está dominado por senhores da guerra
-inclusive alguns talebans- que
comandam "manu militari" suas regiões e se envolvem em disputas interétnicas com seus vizinhos. O quase
nada de infra-estrutura que existia no
país ficou ainda mais arrasado pelos
bombardeios norte-americanos.
Pouco dinheiro foi prometido para a
reconstrução (US$ 4,5 bilhões em
dois anos). Só o que cresce rapidamente no país hoje são as plantações
de papoula para a produção de ópio e
heroína, que haviam praticamente
desaparecido sob o Taleban.
Mesmo o anteprojeto de Constituição enseja algumas dúvidas. O texto,
como não poderia deixar de ser, dá
grande ênfase ao componente islâmico da sociedade afegã. Talvez demais. Há uma passagem que reza:
"No Afeganistão, nenhuma lei pode
ser contrária à sagrada religião do islamismo e aos valores desta Constituição". Há quem veja aí a possibilidade de retorno de um Estado teocrático. É um banho de água fria para
aqueles, principalmente em Washington, que acreditavam que seria
possível criar, a partir da invasão, um
Estado laico e democrático.
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