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ELIANE CANTANHÊDE
Dois pra lá, dois pra cá
BRASÍLIA - O governo Lula está
negociando com os controladores
de vôo, civis e militares, com o mesmo princípio que negocia com o governo Evo Morales na Bolívia: dando uma de bonzinho.
A área civil, à frente os ministros
da Defesa, Waldir Pires, e do Trabalho, Luiz Marinho, argumenta que
os sargentos controladores de vôo
são gente como a gente, com direito
a "sonhos" e "aspirações".
Já a área militar, à frente o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, diz que sargentos de qualquer lugar do
mundo obedecem a dois princípios
inalienáveis: disciplina e hierarquia. E não têm alguns direitos civis, como integrar associações, participar de movimentos de pressão e
muito menos fazer greve.
Está criada a cizânia. E, apesar de
o clima ter azedado bastante, comprometendo o sabor de vitória da
primeira semana da reeleição de
Lula, Pires anuncia como decisão
tomada a criação de um órgão civil
responsável pelo tráfego aéreo, com
uma carreira também civil para todos os controladores (hoje são 2.112
militares e 571 civis).
Na Bolívia, o Brasil evitou a expulsão da Petrobras topando um
acordo sem saber exatamente quais
as implicações de preços, de autonomia, de comando de suas próprias refinarias. Aqui, o governo topou "desmilitarizar" o controle de
tráfego aéreo sem saber exatamente quem, como, onde -e os custos.
O que a Aeronáutica teme é que,
se a pressão de seus sargentos surtir
efeito, a moda pegue. E que venham
por aí movimentos reivindicatórios
em cadeia dos demais profissionais
do setor e, por fim, nas três Forças.
Os comandos do Exército e da Marinha poderiam ser chamados a
condenar publicamente a "leniência". Já imaginou?
O segundo mandato começa atribulado. E justamente em duas áreas
que ninguém jamais poderia imaginar -muito menos desejar: nos aeroportos e nas casernas.
elianec@uol.com.br
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