São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2007

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RUY CASTRO

Bile no fígado

RIO DE JANEIRO - Há duas semanas, tomei um avião da TAM, em Congonhas, de volta para o Rio. O embarque foi normal, sem estresses, mas o avião ficou 40 minutos na pista depois da hora marcada para a decolagem. Nesse espaço de tempo, os comissários se evaporaram e a TAM não deu qualquer satisfação aos passageiros. Estou sabendo que isso vive acontecendo. Às vezes, os passageiros são deixados mofando no avião depois que ele pousa.
A crise aérea não acabou e, ao contrário do unicórnio de James Thurber, não vai deixar de existir se fizermos de conta que ela não existe. Os vôos continuam atrasando, os aeroportos continuam fechando ao menor sinal de chuva, as companhias aéreas continuam vendendo mais passagens do que lugares e as poltronas continuam incapazes de acomodar os maiores de 1,40 m e 40 kg. Uma operação-padrão num feriado é promessa de caos. A novidade é que, agora, há mais desvios: você compra um bilhete para o Santos Dumont e é informado em pleno vôo que descerá no Galeão.
Uma amiga minha levou nove horas de Campo Grande, MS, ao Rio, na semana passada. Cinco dessas horas foram passadas noite adentro, em Congonhas, esperando a conexão para o Rio. Para não considerar essas horas irremediavelmente perdidas em sua vida, minha amiga leu cerca de 200 páginas de "Crônica da Casa Assassinada", de Lucio Cardoso. Ela acha que valeu o investimento. Mas vai pensar duas vezes antes de ir ou voltar de Campo Grande via Congonhas.
Na verdade, nada mudou. Para ir do Rio a Brasília, de Porto Alegre a Curitiba ou de Salvador a Manaus, as duas principais companhias aéreas continuam nos obrigando a bater o pique em Congonhas, onde elas concentram suas operações em terra e de onde extraem seus lucros. Aos passageiros, a barra de cereal e a bile no fígado.


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