|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Bile no fígado
RIO DE JANEIRO - Há duas semanas, tomei um avião da TAM, em
Congonhas, de volta para o Rio. O
embarque foi normal, sem estresses, mas o avião ficou 40 minutos na
pista depois da hora marcada para a
decolagem. Nesse espaço de tempo,
os comissários se evaporaram e a
TAM não deu qualquer satisfação
aos passageiros. Estou sabendo que
isso vive acontecendo. Às vezes, os
passageiros são deixados mofando
no avião depois que ele pousa.
A crise aérea não acabou e, ao
contrário do unicórnio de James
Thurber, não vai deixar de existir se
fizermos de conta que ela não existe. Os vôos continuam atrasando, os
aeroportos continuam fechando ao
menor sinal de chuva, as companhias aéreas continuam vendendo
mais passagens do que lugares e as
poltronas continuam incapazes de
acomodar os maiores de 1,40 m e 40
kg. Uma operação-padrão num feriado é promessa de caos. A novidade é que, agora, há mais desvios: você compra um bilhete para o Santos
Dumont e é informado em pleno
vôo que descerá no Galeão.
Uma amiga minha levou nove horas de Campo Grande, MS, ao Rio,
na semana passada. Cinco dessas
horas foram passadas noite adentro, em Congonhas, esperando a conexão para o Rio. Para não considerar essas horas irremediavelmente
perdidas em sua vida, minha amiga
leu cerca de 200 páginas de "Crônica da Casa Assassinada", de Lucio
Cardoso. Ela acha que valeu o investimento. Mas vai pensar duas
vezes antes de ir ou voltar de Campo Grande via Congonhas.
Na verdade, nada mudou. Para ir
do Rio a Brasília, de Porto Alegre a
Curitiba ou de Salvador a Manaus,
as duas principais companhias aéreas continuam nos obrigando a bater o pique em Congonhas, onde
elas concentram suas operações em
terra e de onde extraem seus lucros.
Aos passageiros, a barra de cereal e
a bile no fígado.
Texto Anterior: Brasília - Valdo Cruz: Teste da sinceridade Próximo Texto: Alba Zaluar: Ânimos exaltados Índice
|