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Concentrado bancário
Fusão que criou o maior banco do país eleva defesas contra crise, mas concentração de poder requer ações corretivas
O SISTEMA bancário brasileiro tem características que o tornam
mais resistente a crises
de confiança, como a que assolou
as nações desenvolvidas nos últimos 40 dias -e que agora, parece, vai ficando para trás. Os negócios são concentrados em poucos bancos, a rede é moderna e
integrada, os conglomerados são
conservadores em suas operações e o capital nacional predomina, largamente, no controle
das casas bancárias.
A fusão entre Itaú e Unibanco,
uma das cartadas mais importantes na história das empresas
financeiras do país, reforça todos
esses fatores e, com isso, as linhas de defesa do Brasil contra
turbulências de potencial desagregador. Consagra, além disso, a
trajetória de sucesso de duas famílias de empresários que, nos
últimos 50 anos, estiveram na
vanguarda da modernização da
atividade bancária no país.
O banco que emerge da fusão
será o maior do país sob diversos
critérios. Tomando-se por base o
valor total dos ativos -os recursos que um banco destina a empréstimos, à compra de ações, títulos públicos e privados etc.-, o
Itaú Unibanco S.A. passa a controlar 20% do mercado nacional.
Bradesco, com uma fatia de 14%,
e Banco do Brasil, que detém
16%, foram ultrapassados.
A solidez de um sistema bancário como o brasileiro, agora reforçada por uma fusão que desmente em definitivo os boatos
sobre suas principiais instituições, deveria facilitar a travessia
da crise global. As dificuldades
ainda enfrentadas para destravar o crédito doméstico, contudo, indicam que essa vantagem
teórica está sujeita a muitos obstáculos na prática.
A maioria dos trunfos da malha
bancária brasileira, no que tange
a solidez e solvência, implica
também problemas que precisam ser combatidos. A concentração -cinco bancos dominam
mais de 70% do mercado, índice
que tende a aumentar no curto
prazo- é um deles. A competição diminui, e os cidadãos ficam
cada vez mais expostos a abusos
nas tarifas e nas taxas de juros.
É difícil explicar por que os
bancos brasileiros, quando emprestam recursos a seus clientes,
acrescentam, em média, 26 pontos percentuais à taxa anual de
juros que desembolsam para
captar recursos -diferença, ou
"spread", que subiu em 2008,
apesar do fim da CPMF, que onerava os empréstimos. Sucessivas
iniciativas para levar mais competição a esse mercado em concentração falharam no objetivo
de aliviar o bolso dos clientes.
A aglutinação de poder de mercado também significa aumento
da influência do lobby dos conglomerados bancários na política e sobre os órgãos reguladores.
A freqüência e a rapidez com que
profissionais trocam de posição
entre o governo e o setor privado
nesse segmento enfraquece a capacidade de arbitragem do poder
público. A desenvoltura de grandes bancos no financiamento de
campanhas, no Executivo e no
Legislativo, também preocupa.
Sobre esses aspectos indesejáveis da concentração as autoridades deveriam agir com mais rigor a partir de agora, a fim de que
o sistema bancário brasileiro, cada vez mais sólido e solvente,
amplie sua contribuição para o
desenvolvimento do país.
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