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FERNANDO RODRIGUES
A peculiar democracia dos EUA
PHOENIX - Mesmo sem a diferença de cinco horas entre Phoenix e
São Paulo, seria difícil analisar hoje
o resultado definitivo da complexa
eleição de ontem nos EUA. A apuração entraria noite adentro.
O processo norte-americano é diferente em cada um dos 50 Estados
do país. Não há órgão centralizador,
como o TSE brasileiro. As cédulas
nunca são as mesmas. Vota-se também neste ano, entre outros assuntos, sobre a legalização do aborto e
até a respeito de gaiolas para confinar animais em cativeiro. Os norte-americanos elegem diretores de
parques, xerifes, promotores, juízes. Ao todo, cerca de 545 mil pessoas são escolhidas para ocupar
cargos públicos pelo voto direto
(não todas ontem), conforme a última conta do cientista político David
King, de Harvard. "Nós gostamos
de votar", diz ele.
No Brasil, são eleitos apenas vereadores, prefeitos, deputados (estaduais e federais), senadores, governadores e presidente. Ao todo,
perto de 53 mil cargos públicos são
preenchidos pelo voto direto -menos de 10% do número da peculiar
democracia norte-americana.
Como nos EUA o princípio federativo existe de verdade, cada Estado faz sua eleição do jeito que bem
entender. Seria inconstitucional o
Congresso tentar padronizar.
Há, de fato, atrasos na apuração.
Além de uma incapacidade crônica
para atender aos eleitores com rapidez. Mas talvez seja um equívoco
considerar a democracia daqui defeituosa por causa da lentidão no
escrutínio. Os norte-americanos
muitas vezes vão dormir sem saber
quem elegeram. É verdade. Estão
nesse mesmo passo há mais de 200
anos. Produziram assim, pelo menos até agora, a nação mais próspera da história da humanidade.
"O sr. perdeu a eleição?", ouviu
McCain dos repórteres ontem, aqui
em Phoenix. Ele franziu a testa, ficou em silêncio e foi embora.
frodriguesbsb@uol.com.br
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