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RUY CASTRO
Sem limites
RIO DE JANEIRO - Uma amiga me
envia, assustada, cópia de uma redação escolar que circula na internet. É um trabalho de sala de aula.
Tem 20 linhas, foi escrito a mão e
parece produzido por um aluno da
7ª ou 8ª série -13 ou 14 anos?-,
não sei em que colégio ou Estado do
Brasil. O tema é o homossexualismo. O garoto não se conforma com
a existência de tantos "gueis e sapátas" à sua volta.
O tom da composição é de ódio e
ameaça. Se, em vez de palavras, o
menino usasse qualquer ferramenta, teríamos uma grave ocorrência
policial. Mas a violência já está na
própria linguagem com que ele se
expressa. "Esses bando de filho duma éguas não tem vergonha na cara deles mesmos própios", diz.
"Eles deveriam morrer para sempre
da vida eterna".
"Eu não tenho nada contra nem
a favor, muito pelo contrário", continua, num lampejo de culpa que
logo se dissolve. "Eu fico é puto
com esse negócio de cú (çanecagem) entre eles. Deixo minha indignação (tou puto mesmo) e peço os
corretos que intenda minha revolta". Outros trechos da redação são
marcados por "é foda", "esses viados" e "vão pra puta que pariu".
Como alguém tão pouco à vontade com a língua pode passar da 2ª
ou 3ª série? Isso é o ensino no Brasil? E o que permite que um estudante brasileiro componha tal redação em aula e a entregue à professora? Onde estão os limites que
deveriam balizar a postura do aluno em face da autoridade ou de
uma pessoa mais velha? E se este
não for um caso isolado?
A professora anotou 27 erros na
redação -na verdade, são mais de
50. Deu zero ao garoto e escreveu ao
pé da página que encaminharia o
texto à direção do colégio. Se for
uma escola pública, tudo bem.
Mas, se for um colégio particular,
arrisca-se a ser suspensa ou despedida por contestar a paupérrima,
miserável expressão de um aluno
em dia com suas mensalidades.
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