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JOSÉ SARNEY
Glória e decadência
Poucas vezes na história um
presidente despertou tantos
sonhos de transformação da
sociedade quanto Barack Obama em sua eleição, com seu lema "yes, we can". Mas foram
essas expectativas de um super-homem que o levaram
agora à derrota nas chamadas
eleições de meio de mandato.
Obama fez grandes realizações na política internacional,
está cumprindo sua promessa
de retirada do Iraque e teve a
grande iniciativa de avançar
no desarmamento nuclear.
Confirmou sua capacidade
de grande orador e abridor de
caminhos. Mas mostrou-se incapaz de gerenciar a grande
armadilha que Bush lhe deixou: a crise econômica que
veio na rasteira da crise financeira. Foram o desemprego, o
crescimento medíocre e a perda da capacidade de consumo
do americano médio que deram força ao eleitorado republicano e afastaram das urnas
os jovens que lhe tinham dado
a grande e histórica vitória como primeiro presidente negro
dos Estados Unidos.
O movimento pendular da
população americana tornou
uma rotina a derrota do presidente nas primeiras eleições
do seu mandato, e depois uma
reconquista de posição na disputa da reeleição. A novidade
desta vez foi a natureza dessa
vitória, não sua dimensão. Na
Câmara, a diferença é até agora de 54 cadeiras. No Senado,
Obama conserva a maioria,
que se estreitou para seis cadeiras. Mas o que chama a
atenção é que os republicanos
e democratas moderados foram os maiores perdedores,
radicalizando as posições e as
diferenças entre os partidos.
Do lado republicano, foram
os membros do movimento
Tea Party -que se autoproclamam continuadores dos que,
disfarçados de índios, lançaram ao mar cargas de chá no
porto de Boston, em protesto
pelas taxações inglesas- que
conquistaram a mais expressiva representação. O símbolo
dos ultraconservadores representa a corrente radical que
nas eleições presidenciais tinha como porta-voz Sarah Palin, uma medíocre líder do
Alasca.
Obama fez seu mea culpa,
dizendo que "provavelmente
houve um orgulho perverso
em meu governo de que iríamos fazer o que deveria ser feito mesmo que fosse impopular
a curto prazo". Os republicanos negaram a Obama, conscientemente, o apoio a suas
políticas, criando todos os
obstáculos à maior delas
-sendo a melhor-, a de acabar com a injustiça do sistema
de saúde americano, pior que
os africanos, que não existem.
Grandes avanços políticos
de Obama estão na mira dos
novos donos da Câmara: a política social, a regulamentação
financeira, os impostos. Obama vai ter que adiar seus planos de uma sociedade mais
igualitária e administrar sua
grande derrota: que ela não
seja decadência, mas um momento de frustração.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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