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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Conspiração abortada

SÃO PAULO - A ida de Otaviano Canuto, assessor internacional do Ministério da Fazenda, para um posto em instituição financeira internacional, com sede em Washington, não é apenas uma mexida burocrática. É o fim (ao menos provisório) de uma conspiração contra as posições que o Itamaraty vem defendendo nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Canuto nunca escondeu ser favorável a uma Alca abrangente, tal como quer o governo norte-americano. Mas aos ouvidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou uma versão bem mais apimentada: o assessor do ministro Palocci teria pedido a empresários de São Paulo que o ajudassem na pressão para mudar a posição do Itamaraty, o que, no limite, significaria decapitar o ministro Celso Amorim.
Lula bateu o martelo em favor de Amorim, apontando-o como o único porta-voz do governo no capítulo Alca (o leitor notou o silêncio de outros ministros que chegaram a criticar o Itamaraty?).
Nessas circunstâncias, a permanência de Canuto em Brasília seria, no mínimo, problemática, do que resultou ter sido "kicked upstairs" (chutado para cima, para usar expressão em inglês, apropriada ao caso).
A dúvida é saber se Canuto vocalizou apenas a sua posição pessoal pró-Alca ampla ou se se sentiu estimulado pelo próprio Palocci.
Em qualquer hipótese, o episódio arranhou, ainda que muito levemente, o prestígio do ministro da Fazenda com o presidente.
Digamos que quebrou a aura de invencibilidade de Palocci. Ainda mais que o presidente entende que a confusão sobre o acordo com o FMI foi culpa de Joaquim Levy, secretário do Tesouro, outro dos economistas do entorno de Palocci. Lula disse que o acordo não seria assinado enquanto ele estivesse no exterior (estava na África), e Levy anunciou o contrário (e o contrário era a verdade).
A menos que a economia entre em céu de brigadeiro, pode preparar-se, caro leitor, para mais intrigas e conspirações palacianas.


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