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CLÓVIS ROSSI
Conspiração abortada
SÃO PAULO - A ida de Otaviano Canuto, assessor internacional do Ministério da Fazenda, para um posto
em instituição financeira internacional, com sede em Washington, não é
apenas uma mexida burocrática. É o
fim (ao menos provisório) de uma
conspiração contra as posições que o
Itamaraty vem defendendo nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Canuto nunca escondeu ser favorável a uma Alca abrangente, tal como
quer o governo norte-americano.
Mas aos ouvidos do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva chegou uma versão bem mais apimentada: o assessor
do ministro Palocci teria pedido a
empresários de São Paulo que o ajudassem na pressão para mudar a posição do Itamaraty, o que, no limite,
significaria decapitar o ministro Celso Amorim.
Lula bateu o martelo em favor de
Amorim, apontando-o como o único
porta-voz do governo no capítulo Alca (o leitor notou o silêncio de outros
ministros que chegaram a criticar o
Itamaraty?).
Nessas circunstâncias, a permanência de Canuto em Brasília seria, no
mínimo, problemática, do que resultou ter sido "kicked upstairs" (chutado para cima, para usar expressão
em inglês, apropriada ao caso).
A dúvida é saber se Canuto vocalizou apenas a sua posição pessoal pró-Alca ampla ou se se sentiu estimulado pelo próprio Palocci.
Em qualquer hipótese, o episódio
arranhou, ainda que muito levemente, o prestígio do ministro da Fazenda com o presidente.
Digamos que quebrou a aura de invencibilidade de Palocci. Ainda mais
que o presidente entende que a confusão sobre o acordo com o FMI foi
culpa de Joaquim Levy, secretário do
Tesouro, outro dos economistas do
entorno de Palocci. Lula disse que o
acordo não seria assinado enquanto
ele estivesse no exterior (estava na
África), e Levy anunciou o contrário
(e o contrário era a verdade).
A menos que a economia entre em
céu de brigadeiro, pode preparar-se,
caro leitor, para mais intrigas e conspirações palacianas.
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