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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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O PT E OS "GAFANHOTOS"

É indiscutível que todo cidadão suspeito de algum delito deve ser considerado inocente até prova em contrário. Essa regra vale certamente para o governador de Roraima, Flamarion Portela (PT), que tem sido alvo de especulações em relação ao chamado escândalo dos "gafanhotos". Como se sabe, a Polícia Federal trouxe à luz fortes indícios de um esquema de saque ao dinheiro público naquele Estado. Milhares de pessoas teriam sido incluídas na folha de pagamentos do governo (os "gafanhotos"), tendo parte de seus salários desviada. O ex-governador Neudo Campos foi preso, com mais 40 suspeitos, acusado de participar da fraude.
O atual governador, Flamarion Portela, que foi vice de Neudo Campos, assumiu em abril do ano passado -pois o titular saíra para concorrer ao Senado. Segundo se noticia, a PF teria informações de que a folha de pagamentos de Roraima dobrou durante a primeira gestão -e a campanha- de Portela. O governador, que tentava evitar os holofotes, já admitiu ter tido conhecimento "superficial" do esquema. Isso poderia ser suficiente para que tivesse promovido investigações. Além do mais, folhas de pagamentos deveriam merecer a atenção de governadores, em geral às voltas com restrições financeiras em seus Estados.
Tudo isso são raciocínios lógicos, mas nem sempre a lógica preside as ações humanas. Há casos também em que uma lógica anteriormente adotada é abandonada em novas circunstâncias. O PT, por exemplo, em relação aos "gafanhotos", vai assumindo um padrão diferente de comportamento -a exemplo do que faz em outras áreas. O partido, sempre o primeiro a exigir apurações, agora tenta "esfriar" o caso, preocupado com o governador, recentemente filiado à agremiação. Essa atitude tem uma face saudável se representar o zelo de não condenar às pressas. Será, no entanto, lamentável se a cúpula do partido contribuir para retardar o passo das investigações.


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