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14 anos no poder
O acúmulo de forças oposicionistas, agora dentro das regras do jogo, é a melhor notícia destas eleições na Venezuela
O PRESIDENTE Hugo Chávez dedicou sua vitória
eleitoral ao amigo Fidel Castro. Bem lembrado: depois do ditador cubano,
seu pupilo de Caracas é o chefe
de Estado há mais tempo no poder na América Latina e acaba de
ganhar das urnas o direito de
permanecer no cargo até 2013.
Em seu estilo usual, tão cru
quanto o óleo que lubrifica o
"milagre bolivariano", Chávez
fala em aprofundar sua "revolução". Estaria aberto o caminho
para mais uma escalada autoritária na Venezuela -e com a bênção do presidente Lula, que,
rompendo irresponsavelmente
os mais elementares protocolos
diplomáticos, lhe emprestou
apoio em plena campanha.
Note-se, porém, que a oposição
ao chavismo está longe de ser
desprezível na Venezuela. O governador Manuel Rosales, o candidato derrotado, reuniu forças
que estavam dispersas e obteve
quase 40% dos votos. Arrastado
pela mesma maré petrolífera e
enfurnado na mesma tentação
autocrática, Vladimir Putin foi
mais eficiente. Reelegeu-se com
71% na Rússia. Nem se fale dos
índices de aprovação nos "plebiscitos" que Saddam Hussein
obtinha em seus tempos de petroditador.
O acúmulo de forças oposicionistas, agora dentro das regras
do jogo, é a melhor notícia destas
eleições na Venezuela para quem
preza as liberdades democráticas e a alternância no poder.
Mais de quatro anos atrás, em
abril de 2002, os adversários de
Chávez enveredaram pelo golpismo. Apoiados por Washington, conseguiram deslegitimar-se enquanto pólo alternativo de
poder e vitimizar um presidente
então bastante fragilizado.
Erraram novamente as forças
de oposição no ano passado,
quando boicotaram as eleições
legislativas, proporcionando a
Chávez domínio absoluto do
Congresso. Quer-se crer que
aprenderam a lição, pois só como
grupo que renuncia a soluções de
força podem resistir com legitimidade aos tentames castristas
que certamente virão do presidente no novo mandato.
Não há novidade no modelo
chavista. Ele nasceu de uma política carcomida, quando um arcabouço institucional historicamente rarefeito desmoronou
com a crise econômica e arrastou
consigo os partidos tradicionais.
À diferença de Evo Morales na
Bolívia, Hugo Chávez não representa nenhum movimento social
emergente. É fruto de uma ruptura na corporação militar, tendo desabrochado para a política
numa tentativa frustrada de golpe de Estado, em 1992.
Beneficiado pela maior alta
nas cotações do petróleo em um
quarto de século, Chávez pôde
exercitar-se no cesarismo. Seguindo os passos de Perón e congêneres, dá dinheiro aos pobres e
os converte em massa eleitoral a
serviço do governismo.
Por trás da fumaça "socialista"
que encanta uma certa esquerda,
o caudilho de Caracas reforça o
modelo econômico que está na
base da secular instabilidade venezuelana. Se o preço do petróleo cair abruptamente, o castelo
de cartas que sustenta o chavismo correrá o risco de desmoronar sem deixar vestígio.
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