São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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ROGÉRIO GENTILE

Cicarelli e a poluição visual

SÃO PAULO - Cicarelli que me perdoe, mas São Paulo tende a melhorar um pouco o seu, digamos, sex appeal se der certo o intento do prefeito Gilberto Kassab de acabar com a "poluição visual" da cidade a partir do próximo mês -o que inclui aqueles painéis imensos da modelo em trajes sumaríssimos.
Nada contra os tais trajes, claro, nem acho que a definição "poluição visual" caiba na referida situação, mas São Paulo precisa mesmo de um banho de loja -no caso, melhor dizendo, "banho de não loja".
A cidade, que já não foi lá muito favorecida pela natureza e cresceu de forma atabalhoada e predatória, virou um imenso shopping com tantos outdoors, painéis eletrônicos e afins -é anúncio de calcinha, e cueca de um lado da rua; sanduíche e chinelo do outro. Um horror.
Por princípio, não gosto de medidas radicais e ilimitadas, como é o caso dessa "lei-vitrine" de Kassab, que proíbe a publicidade externa em toda São Paulo (a única possibilidade são as placas indicativas com o nome das empresas em seus locais de funcionamento, ainda assim em tamanhos reduzidos).
Até porque sempre suspeito de suas motivações -prefeito por herança e carismático como um figurante de novela, o pefelista precisa de uma boa polêmica para se firmar, tornar-se mais conhecido e, bingo, ter chances de reeleição.
Feitas as ressalvas, acho que, se emplacar de fato (já estamos em dezembro e não vi ninguém retirando nada ainda), a nova lei poderá ser salutar. Para o bem ou para o mal, a cidade ficará mais exposta e menos confusa. Vejo vantagens mesmo para os lugares nos quais a publicidade serve de disfarce para horrores urbanos -pichações, abandono, destruição, favelas. São Paulo ficará mais autêntica, ao menos.
Ademais, o desnudamento poderá ter -aqui e ali- efeito provocador. Demandará um esforço público e privado pela qualidade, pela arrumação estética e social. Acarretará, quem sabe, comprometimentos. Acredito nisso, romanticamente.


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