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ROGÉRIO GENTILE
Cicarelli e a poluição visual
SÃO PAULO - Cicarelli que me
perdoe, mas São Paulo tende a melhorar um pouco o seu, digamos, sex
appeal se der certo o intento do prefeito Gilberto Kassab de acabar
com a "poluição visual" da cidade a
partir do próximo mês -o que inclui aqueles painéis imensos da modelo em trajes sumaríssimos.
Nada contra os tais trajes, claro,
nem acho que a definição "poluição
visual" caiba na referida situação,
mas São Paulo precisa mesmo de
um banho de loja -no caso, melhor
dizendo, "banho de não loja".
A cidade, que já não foi lá muito
favorecida pela natureza e cresceu
de forma atabalhoada e predatória,
virou um imenso shopping com
tantos outdoors, painéis eletrônicos e afins -é anúncio de calcinha,
e cueca de um lado da rua; sanduíche e chinelo do outro. Um horror.
Por princípio, não gosto de medidas radicais e ilimitadas, como é o
caso dessa "lei-vitrine" de Kassab,
que proíbe a publicidade externa
em toda São Paulo (a única possibilidade são as placas indicativas com
o nome das empresas em seus locais de funcionamento, ainda assim
em tamanhos reduzidos).
Até porque sempre suspeito de
suas motivações -prefeito por herança e carismático como um figurante de novela, o pefelista precisa
de uma boa polêmica para se firmar, tornar-se mais conhecido e,
bingo, ter chances de reeleição.
Feitas as ressalvas, acho que, se
emplacar de fato (já estamos em dezembro e não vi ninguém retirando
nada ainda), a nova lei poderá ser
salutar. Para o bem ou para o mal, a
cidade ficará mais exposta e menos
confusa. Vejo vantagens mesmo para os lugares nos quais a publicidade serve de disfarce para horrores
urbanos -pichações, abandono,
destruição, favelas. São Paulo ficará
mais autêntica, ao menos.
Ademais, o desnudamento poderá ter -aqui e ali- efeito provocador. Demandará um esforço público e privado pela qualidade, pela arrumação estética e social. Acarretará, quem sabe, comprometimentos.
Acredito nisso, romanticamente.
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