São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O verdadeiro apagão de energia elétrica

JOSÉ CARLOS ALELUIA

O dilema é o seguinte: se o Brasil deixar de crescer como o Haiti, caminhará para um apagão de verdade, com falta real de energia elétrica

EM 2001, no governo FHC, o Brasil passou por um período de racionamento de energia elétrica denominado indevidamente de "apagão". O país tinha máquinas (geradoras) instaladas, mas faltou combustível. Leia-se: água. A falta de chuvas nas cabeceiras dos rios, em Minas Gerais, obrigou ao racionamento.
A intensificação de providências para a conclusão de obras em andamento ou paralisadas e a racionalização no uso da energia elétrica levaram ao equacionamento do problema.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva assumiu em 1º de janeiro de 2003 com uma sobra de oferta de energia elétrica que possibilitou o abastecimento normal do mercado, graças ao pífio crescimento do PIB no período.
Durante todo o primeiro mandato do governo do PT, nenhuma obra nova de geração foi iniciada. Ainda assim, o país conta, neste momento, com ligeira sobra de energia elétrica.
A potência instalada no parque gerador brasileiro é da ordem de 96 mil MW, com condições de suprir uma carga de 56 mil MW médios. O consumo atual é de aproximadamente 48 mil MW médios. Sobram, pois, 8 mil MW médios.
Se o Brasil crescer 5% do PIB ao ano como quer (?) o presidente Lula, e considerando uma elasticidade de 1,2%, teremos um crescimento do consumo de energia elétrica da ordem de 6% ao ano.
Ao final de 2007, o consumo seria de 48 mil x 1,06 = 50.880 MW médios; de 2008, o consumo seria de 50.888 x 1,06 = 53.933 MW médios; de 2009, de 53.933 x 1,06 = 57.169 MW médios; e, de 2010, o consumo seria de 57.169 x 1,06 = 60.599 MW médios.
Como não há previsão de entrada em operação de fontes significativas de geração de energia elétrica antes de 2010, restará ao Brasil o dilema: continuar crescendo como o Haiti ou caminhar para um apagão de verdade, com falta real de energia elétrica, e não racionamento, como em 2001.
É preciso mobilizar de imediato a sociedade para a aplicação de medidas que evitem que o país entre em um caos nunca antes vivenciado.
A advertência que fizemos lá atrás, no segundo ano do governo Lula, confirmada por técnicos em infra-estrutura, de que o Brasil caminhava celeremente para um apagão geral, pois o descaso com a energia fora estendido aos transportes e portos, foi subestimada pelo governo do PT.
O custo da irresponsabilidade é altíssimo. Aí está a crise na aviação. Estamos perdendo de vista outras nações emergentes, que crescem acima de 6% médios anualmente, enquanto o Brasil mergulha num crescimento medíocre, abaixo de 3%.
Talvez tenhamos perdido a oportunidade de nos aproximarmos do Primeiro Mundo. O momento virtuoso da economia internacional pode estar virando o fio. Os primeiros sinais de que o freio de mão está sendo puxado já são percebidos na locomotiva norte-americana. E a China admite reduzir o crescimento extraordinário dos últimos anos.
O Brasil mostrou-se incompetente nestes primeiros quatro anos de Lula.
Perdeu a carona no clima efervescente da economia internacional. Pagar para ver mais quatros de Lula pode ter sido fatal para o futuro do país.
Se a crise anunciada é preocupante, mais sério e preocupante é o fato de o presidente da República, durante toda a campanha à reeleição, ter insistido no discurso de que o país está preparado para um crescimento sustentado. Reeleito, Lula chegou a falar, do alto de sua autoridade, que o Brasil cresceria 5% já em 2007. Puro blefe.
O Ipea, vinculado ao Ministério do Planejamento, desautorizou o presidente da República ao informar que o crescimento de 5% só aconteceria por volta de 2017, se o Brasil fizesse o dever de casa. Coisas do tipo reduzir despesas e investir em energia elétrica, transportes, portos.
O estudo do Ipea havia sido concluído antes das eleições. Pela gravidade do assunto, o presidente da República teria obrigatoriamente que ter a informação. Se a tinha e insistiu em falar em crescimento, reafirma sua falta de escrúpulos.
Mais grave ainda será se o Ministério do Planejamento não informou o presidente da República sobre a precariedade em que se encontra a infra-estrutura brasileira depois de quatros anos sem investimentos. A menos que Lula e seu governo considerem que tapar precariamente buracos em rodovias seja considerado obra de infra-estrutura.
O Brasil está numa encruzilhada. Para atravessá-la, necessita muito mais de competência e seriedade do que dos arroubos demagógicos e irresponsáveis do senhor Luiz Inácio Lula da Silva.


JOSÉ CARLOS ALELUIA, 59, deputado federal pelo PFL-BA, é o líder da oposição na Câmara dos Deputados
www.deputadoaleluia.com.br


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