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TENDÊNCIAS/DEBATES
O verdadeiro apagão de energia elétrica
JOSÉ CARLOS ALELUIA
O dilema é o seguinte: se o Brasil deixar de crescer como o Haiti, caminhará para um apagão de verdade, com falta real de energia elétrica
EM 2001, no governo FHC, o Brasil passou por um período de racionamento de energia elétrica
denominado indevidamente de "apagão". O país tinha máquinas (geradoras) instaladas, mas faltou combustível. Leia-se: água. A falta de chuvas
nas cabeceiras dos rios, em Minas Gerais, obrigou ao racionamento.
A intensificação de providências
para a conclusão de obras em andamento ou paralisadas e a racionalização no uso da energia elétrica levaram
ao equacionamento do problema.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva
assumiu em 1º de janeiro de 2003
com uma sobra de oferta de energia
elétrica que possibilitou o abastecimento normal do mercado, graças ao
pífio crescimento do PIB no período.
Durante todo o primeiro mandato
do governo do PT, nenhuma obra nova de geração foi iniciada. Ainda assim, o país conta, neste momento,
com ligeira sobra de energia elétrica.
A potência instalada no parque gerador brasileiro é da ordem de 96 mil
MW, com condições de suprir uma
carga de 56 mil MW médios. O consumo atual é de aproximadamente 48
mil MW médios. Sobram, pois, 8 mil
MW médios.
Se o Brasil crescer 5% do PIB ao
ano como quer (?) o presidente Lula, e
considerando uma elasticidade de
1,2%, teremos um crescimento do
consumo de energia elétrica da ordem de 6% ao ano.
Ao final de 2007, o consumo seria
de 48 mil x 1,06 = 50.880 MW médios;
de 2008, o consumo seria de 50.888 x
1,06 = 53.933 MW médios; de 2009,
de 53.933 x 1,06 = 57.169 MW médios;
e, de 2010, o consumo seria de 57.169
x 1,06 = 60.599 MW médios.
Como não há previsão de entrada
em operação de fontes significativas
de geração de energia elétrica antes
de 2010, restará ao Brasil o dilema:
continuar crescendo como o Haiti ou
caminhar para um apagão de verdade,
com falta real de energia elétrica, e
não racionamento, como em 2001.
É preciso mobilizar de imediato a
sociedade para a aplicação de medidas que evitem que o país entre em
um caos nunca antes vivenciado.
A advertência que fizemos lá atrás,
no segundo ano do governo Lula, confirmada por técnicos em infra-estrutura, de que o Brasil caminhava celeremente para um apagão geral, pois o
descaso com a energia fora estendido
aos transportes e portos, foi subestimada pelo governo do PT.
O custo da irresponsabilidade é altíssimo. Aí está a crise na aviação. Estamos perdendo de vista outras nações emergentes, que crescem acima
de 6% médios anualmente, enquanto
o Brasil mergulha num crescimento
medíocre, abaixo de 3%.
Talvez tenhamos perdido a oportunidade de nos aproximarmos do Primeiro Mundo. O momento virtuoso
da economia internacional pode estar
virando o fio. Os primeiros sinais de
que o freio de mão está sendo puxado
já são percebidos na locomotiva norte-americana. E a China admite reduzir o crescimento extraordinário dos
últimos anos.
O Brasil mostrou-se incompetente
nestes primeiros quatro anos de Lula.
Perdeu a carona no clima efervescente da economia internacional. Pagar
para ver mais quatros de Lula pode
ter sido fatal para o futuro do país.
Se a crise anunciada é preocupante,
mais sério e preocupante é o fato de o
presidente da República, durante toda a campanha à reeleição, ter insistido no discurso de que o país está preparado para um crescimento sustentado. Reeleito, Lula chegou a falar, do
alto de sua autoridade, que o Brasil
cresceria 5% já em 2007. Puro blefe.
O Ipea, vinculado ao Ministério do
Planejamento, desautorizou o presidente da República ao informar que o
crescimento de 5% só aconteceria por
volta de 2017, se o Brasil fizesse o dever de casa. Coisas do tipo reduzir
despesas e investir em energia elétrica, transportes, portos.
O estudo do Ipea havia sido concluído antes das eleições. Pela gravidade do assunto, o presidente da República teria obrigatoriamente que
ter a informação. Se a tinha e insistiu
em falar em crescimento, reafirma
sua falta de escrúpulos.
Mais grave ainda será se o Ministério do Planejamento não informou o
presidente da República sobre a precariedade em que se encontra a infra-estrutura brasileira depois de quatros
anos sem investimentos. A menos
que Lula e seu governo considerem
que tapar precariamente buracos em
rodovias seja considerado obra de infra-estrutura.
O Brasil está numa encruzilhada.
Para atravessá-la, necessita muito
mais de competência e seriedade do
que dos arroubos demagógicos e irresponsáveis do senhor Luiz Inácio
Lula da Silva.
JOSÉ CARLOS ALELUIA, 59, deputado federal pelo PFL-BA, é o líder da oposição na Câmara dos Deputados
www.deputadoaleluia.com.br
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