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Design em alta
ADÉLIA BORGES
A Embraer foi escolhida pelo Conselho Diretor do Museu da Casa Brasileira como a empresa homenageada deste ano
DESIGN ERA uma palavra pouco
conhecida e compreendida
quando, em 1986, o Museu da
Casa Brasileira criou um prêmio para
incentivar a sua disseminação.
Contrariando a tônica de nossa história, que é a de um administrador
público interromper o que o anterior
fez, essa iniciativa pioneira sobreviveu às mudanças de governo e se tornou a premiação de design de produto
com maior longevidade no país.
Por ser realizado por uma instituição cultural pública, pertencente ao
governo do Estado de São Paulo, e
agregar em torno de si personalidades
importantes tanto da área do projeto
quanto da produção teórica, se credenciou ano a ano como o grande termômetro e, ao mesmo tempo, o grande incentivador do design brasileiro.
Ao longo das duas últimas décadas,
o design passou por profundas transformações no país. Um marco importante foi a abertura do mercado nacional para a importação de produtos,
em 1990, que possibilitou que o consumidor cotejasse produtos nacionais e estrangeiros num mesmo segmento, trazendo como efeito direto o
desestímulo à prática da cópia, até então imperante em nossa indústria.
Em 1995, o governo federal criou o
Programa Brasileiro de Design, com a
preocupação do desenvolvimento de
uma "marca Brasil". Outro empurrão
foi a criação, em 2001, pelo Sebrae, do
Programa Cara Brasileira, que estimulou uma saudável indagação sobre
as nossas multifacetadas identidades.
No campo político, o impeachment
do presidente da República, desencadeado pelos caras-pintadas, foi um
momento-chave em que o sentimento de vergonha em relação ao próprio
país começou a dar lugar ao sentimento de esperança. A partir daí, o
"orgulho de ser brasileiro" se tornou
mote publicitário -de companhias
aéreas a redes de supermercado.
Essas mudanças todas têm reflexo
imediato em nossa cultura material.
Designers que há muito vinham "pregando no deserto", com dificuldades
de venda diante de um consumidor
mais interessado nos signos de modernidade vindos de Milão, por exemplo, passaram a ver um interesse renovado por seu trabalho.
Um dos exemplos mais significativos é o do carioca Sergio Rodrigues,
que, em 1961, arrebatou um prêmio
na Itália para a sua poltrona Mole,
mas que, nas décadas de 80 e 90, vinha amargando um refluxo nas vendas até que uma empresa do Paraná
decidiu colocar suas criações em linha de produção, com enorme aceitação. Aos 79 anos, Rodrigues, humildemente, não se furtou à avaliação dos
pares e conquistou, neste ano, o primeiro lugar em mobiliário no Prêmio
Design com a poltrona Diz, prova de
que continua uma usina de criação.
Se, há alguns anos, o comportamento geral dos designers era também mirar em exemplos do exterior,
seja a influência alemã, predominante no ensino de design no Brasil, iniciado com a criação da Escola Superior de Desenho Industrial, no Rio de
Janeiro, em 1962, seja a mais recente
influência italiana, sobretudo a partir
dos anos 90 surgiu uma geração disposta a dar suas próprias respostas.
O exemplo mais conhecido é o dos
irmãos Humberto e Fernando Campana, verdadeiros "pop stars" do design internacional, festejados onde
quer que estejam. Críticos internacionais sempre apontam um forte
"DNA brasileiro" em seu trabalho, em
cuja base está a atitude inventiva de
nosso povo, de tirar partido dos materiais e tecnologias disponíveis, mesmo improvisados e banais.
Outro exemplo do nosso design que
faz sucesso em todo o mundo é a Embraer, que foi escolhida pelo Conselho Diretor do Museu da Casa Brasileira como a empresa homenageada
deste ano. Seu sucesso comercial passou a ocorrer quando ela deixou de
querer competir na mesma raia das
concorrentes internacionais e passou
a buscar soluções para problemas
nossos. Em vez de aviões grandes, decidiu projetar um veículo robusto, pequeno, capaz de aterrissar nas pistas
precárias do território nacional
-condição que, viu-se depois, não era
prerrogativa do nosso país. Assim,
desde o Bandeirantes, a empresa iniciou uma escalada ascendente e hoje
só está atrás da Boeing e da Airbus.
Hoje à noite, no Museu da Casa
Brasileira, o prêmio da Embraer será
entregue por José Mindlin, um dos
primeiros empresários a disseminar a
idéia de que design não é uma frivolidade estética, mas um componente
essencial para a qualidade de nossos
produtos e, portanto, para a economia do país. Nesses 20 anos, sob a liderança de nomes como o dele, muita
coisa já se fez, mas, sem dúvida, muitas ainda precisam ser feitas.
ADÉLIA BORGES, 55, professora de história do design, dirige o Museu da Casa Brasileira desde 2003.
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