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RUY CASTRO
Desmentidos categóricos
RIO DE JANEIRO - Uma cantora
americana, daquelas que despertavam suspiros a partir da capa do LP,
veio ao Rio nos anos 60 com o marido, ele também cantor, jazzista e
autor de um big sucesso internacional. Os dois ganharam como cicerone o safo repórter de uma revista
semanal carioca. Assim que o casal
voltou para Los Angeles, o repórter
negou que tivesse tido um caso com
a cantora.
O curioso é que ninguém suspeitara da existência de tal caso e, por
isso, ninguém lhe perguntara. Mas
a ênfase com que o repórter se empenhou em desmentir os rumores
imaginários sobre uma, idem, ligação romântica com a mulher (invocando inclusive sua amizade com o
marido) fez com que as pessoas
acreditassem que tinha havido
mesmo alguma coisa, e que ele estava apenas protegendo a reputação
da moça -fosse outro, menos cavalheiro, e sairia apregoando a façanha amorosa.
Daí que, pelas décadas seguintes,
o repórter foi explicitamente invejado pelos amigos como o homem
que privara das intimidades da fabulosa cantora. E só porque dissera
a mais pura e peregrina verdade:
que nunca tivera nada com ela.
É um velho truque, mas ainda
funciona. Há meses, por exemplo, o
presidente Lula foi categórico ao
desmentir que estivesse de olho
num terceiro mandato. Ninguém
lhe perguntara ou sequer cogitara
tamanho absurdo. Mas a veemência com que ele se negava a até mesmo considerar a hipótese fez com
que todos se convencessem de que
Lula não queria outra coisa.
Vida que segue, e Lula continua
negando que queira continuar se
reelegendo. Só que sem a mesma
ênfase. Dá a impressão de que, se
este for o desejo da nação -expresso num plebiscito maroto-, ele, docemente constrangido, irá para o
sacrifício e, à falta de melhor, aceitará eternizar-se no poder.
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