São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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RUY CASTRO

Desmentidos categóricos

RIO DE JANEIRO - Uma cantora americana, daquelas que despertavam suspiros a partir da capa do LP, veio ao Rio nos anos 60 com o marido, ele também cantor, jazzista e autor de um big sucesso internacional. Os dois ganharam como cicerone o safo repórter de uma revista semanal carioca. Assim que o casal voltou para Los Angeles, o repórter negou que tivesse tido um caso com a cantora.
O curioso é que ninguém suspeitara da existência de tal caso e, por isso, ninguém lhe perguntara. Mas a ênfase com que o repórter se empenhou em desmentir os rumores imaginários sobre uma, idem, ligação romântica com a mulher (invocando inclusive sua amizade com o marido) fez com que as pessoas acreditassem que tinha havido mesmo alguma coisa, e que ele estava apenas protegendo a reputação da moça -fosse outro, menos cavalheiro, e sairia apregoando a façanha amorosa.
Daí que, pelas décadas seguintes, o repórter foi explicitamente invejado pelos amigos como o homem que privara das intimidades da fabulosa cantora. E só porque dissera a mais pura e peregrina verdade: que nunca tivera nada com ela.
É um velho truque, mas ainda funciona. Há meses, por exemplo, o presidente Lula foi categórico ao desmentir que estivesse de olho num terceiro mandato. Ninguém lhe perguntara ou sequer cogitara tamanho absurdo. Mas a veemência com que ele se negava a até mesmo considerar a hipótese fez com que todos se convencessem de que Lula não queria outra coisa.
Vida que segue, e Lula continua negando que queira continuar se reelegendo. Só que sem a mesma ênfase. Dá a impressão de que, se este for o desejo da nação -expresso num plebiscito maroto-, ele, docemente constrangido, irá para o sacrifício e, à falta de melhor, aceitará eternizar-se no poder.


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