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ANTONIO DELFIM NETTO
Correta precaução
NÃO PARECEM razoáveis as
contínuas reclamações feitas por "moralistas" do sistema financeiro com relação à suspensão do leilão das 41 áreas contíguas às do campo Tupi. Ao contrário do que se diz, não houve nenhuma quebra de contrato, e é risível a
analogia futebolística de que "não
se muda a regra com o jogo em andamento".
Em 2000, o US Geological Survey, que pesquisa recursos naturais com satélite e dispõe de sofisticadíssimos modelos probabilísticos de estimação de reservas minerais, sugeriu a existência de depósitos substanciais de petróleo na bacia de Santos, estimando-os em
torno de 30 bilhões de barris. Há
mais de um ano, circulavam rumores de que a Petrobras (em parceria
com empresas estrangeiras) tinha
comprovado a existência daquele
óleo e de que ele era de boa qualidade. Diante da enorme assimetria de
informação existente, teria sido
prudente não deixar as 41 áreas listadas para o leilão sem uma profunda discussão das implicações
políticas, sociais e econômicas da
descoberta. O fato revela como é
necessária uma boa coordenação
entre a Agência Nacional de Petróleo e o governo, uma vez que, pela
Constituição (art.177), a pesquisa e
a lavra de jazidas de petróleo e gás
natural são monopólios da União,
que, felizmente, pode contratar para a realização dessas atividades
empresas estatais ou privadas de
acordo com as normas da lei.
Como temos insistido, o "novo"
petróleo não pertence à União, e
muito menos à Petrobras. Ele pertence à nação brasileira, isto é, a todos e a cada um de nós, que, pelo
dispositivo constitucional, demos
à União o monopólio (que ela pode
transferir) da exploração. Dada a
magnitude da reserva, não se trata
de ganhos marginais que devam,
necessariamente, ser acomodados
às normas vigentes. Houve uma
mudança quantitativa, com claras
implicações qualitativas. É preciso
discutir como os benefícios da descoberta serão apropriados pela sociedade brasileira. É evidente que
isso exclui a proposta de voltar ao
monopólio que rejeitava o capital
privado (nacional e estrangeiro),
mesmo porque sem ele a nova exploração será impossível. Não parece razoável que os "royalties" da
exploração continuem a ser distribuídos de forma tão desigual, injusta e arbitrária entre os Estados e
os municípios do pais. O problema
é tecnicamente complexo, economicamente ainda obscuro e politicamente muito sensível.
Sua solução exigirá um enfrentamento inteligente e maduro. Fez
bem o governo, portanto, em suspender da nona rodada de licitações as novas áreas da bacia de Santos até resolvê-lo.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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