São Paulo, sábado, 5 de dezembro de 1998

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Assalto ao forte

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Estamos perdidos: um homem sozinho assaltou ontem posto bancário do edifício do Comando Militar do Leste. Isso mesmo: sem que ninguém visse ou ouvisse qualquer coisa, o assaltante subtraiu R$ 10 mil daquele que teoricamente deveria ser o edifício mais seguro da cidade, já que as centenas de pessoas que ali trabalham são soldados.
Para quem não conhece, o tal prédio fica na avenida Presidente Vargas, em frente ao campo de Santana e do lado da Central do Brasil.
Foi construído nos primeiros ímpetos do Estado Novo getulista: começou a ser erguido em 1937 e ficou pronto em 41. Sua arquitetura é bem ao gosto dos ditadores da época: monumental, angulosa, massuda, abusando do mármore e do granito, parecidíssima com a de dezenas de prédios erguidos na Itália da era fascista.
Foi construído junto do antigo quartel-general do Exército, aliás de onde saiu a rebelião que virou golpe e levou o Brasil do Império à República.
Quanto à sua forma horrenda, não poderia ser outra. Afinal, foi erigido para abrigar o Ministério da Guerra do todo-poderoso Getúlio Vargas. Ele ficou pronto, diga-se, já em meio à Segunda Guerra Mundial, conflito que, se dependesse dos desejos mais recônditos de Vargas, teria o Brasil combatendo os aliados e não o eixo nazi-fascista. Mas essa é outra história.
Ainda sobre o tal edifício, ele se chama hoje Duque de Caxias e ostenta na praça que tem em frente um panteão dedicado ao patrono do Exército brasileiro. O monumento é vigiado dia e noite por sentinelas.
Assim como todas as entradas do prédio têm sentinelas armadas. E assim como, também, todo o acesso de civis é controladíssimo.
Ou seja, não se sabe ainda se foi ousadia e eficiência demais do assaltante ou se houve negligência, conivência ou incompetência da guarda.
O fato é que não se fazem mais militares como antigamente. Num certo sentido, ainda bem.

Amanhã o Cony retorna das férias, e eu volto a frequentar este espaço apenas às sextas-feiras.



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