São Paulo, terça, 6 de janeiro de 1998.



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O ANO VELHO RECOMEÇOU

O primeiro dia da primeira semana útil de 1998 deu a impressão de que 1997 ainda não acabou. A Bolsa de Nova York celebrou o novo ano com mais uma alta, mas as notícias da Ásia continuam inquietantes.
No final de dezembro, a Coréia do Sul havia obtido mais apoios a seu esforço normalizador. Mas a incipiente tranquilidade foi rompida pelo anúncio de que a Tailândia não se considera capaz de seguir as exigências do FMI e quer renegociar o acordo que garantiu ao país um fundo de resgate da ordem de US$ 17 bilhões.
Pode estar surgindo na Ásia o que os economistas chamam de "risco moral", presente onde as operações de resgate financeiro tornam-se rotina. Segundo essas análises, o comportamento dos agentes e das instituições financeiras torna-se mais irresponsável exatamente quando um organismo de instância superior, como um banco central, assume prejuízos e evita a quebra de bancos.
Surge assim um paradoxo. De um lado, é fundamental evitar que a quebradeira se generalize. Mas, ao mesmo tempo, quando ganha terreno o sentimento de que o sistema "não pode" quebrar, seus padrões de conduta tornam-se menos rigorosos.
Guardadas as proporções, esse pode ser o novo risco a surgir como desdobramento na crise asiática.
Os esforços mais recentes apontam precisamente para um cenário em que não se deve permitir as quebras ou moratórias. Mobilizam-se recursos cada vez mais amplos para evitar uma ruptura financeira.
É nesse contexto que um país já comprometido com um acordo, como a Tailândia, sente-se menos obrigado a cumpri-lo. O episódio apenas reforça as já disseminadas críticas ao receituário que o FMI sugere para a região. A Tailândia pode pagar para ver, como ameaçou fazer a Coréia.
Se o risco moral aumentar, a questão é saber se em algum momento não será mais barato deixar um país quebrar. Ou se a receita do FMI não contribuiria, afinal, para gerar a falência que se propõe evitar.



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