São Paulo, sexta-feira, 06 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Ariel Sharon, o homem, o mito

SÃO PAULO - Uma das ironias do recente processo de canonização de Ariel Sharon, além do termo religiosamente incorreto, é o fato de o premiê de Israel perfumar-se em odor de santidade por abjurar uma parte do credo político de toda uma vida. Aliás, por parecer abjurar.
Foi por política menor que Sharon desocupou Gaza, motivo da laudação piegas, oportunista e direitosa de sua figura. Decerto é melhor um Sharon pragmático do que alucinado. Mas Sharon apenas desarma parte dos ódios e horrores que causou, como a provocação eleitoral que relançou sua carreira, em 2000, e deu origem a quatro anos de guerra, ou de que foi cúmplice, como o massacre de palestinos no Líbano, em 1982.
Sharon sempre pregou a ocupação das propriedades palestinas. Continuava a fazê-lo agora, procurando anexar terras na Cisjordânia e em Jerusalém, criando guetos palestinos com seu muro ilegal. Mas Gaza não valia os custos militares e políticos. Ao sair de lá, isolou a direita, com quem corria o risco de micar, e ganhou a confiança do centro de Israel. Mas trata-se de política unilateral, não um caminho para a paz.
A morte de Arafat e a ascensão de Mahmoud Abbas auxiliaram o movimento de Sharon, pois a princípio houve uma contenção da desordem palestina, que, porém, já referve.
O Fatah, partido de Arafat e Abbas, sabotou o governo de Abbas. Continua corrupto, paga milícias terroristas e deve ir dividido à eleição legislativa. Abbas adia a eleição desde o ano passado, pois teme a votação do Hamas. Gaza virou campo de guerra de gangues e milícias.
A "velha guarda" do Fatah e os terroristas do Hamas tentam dar cabo de qualquer tentativa de racionalidade na Palestina. O lugar-comum da política israelense diz que, a fim de ter apoio político para fazer a paz, é preciso ser de direita, mostrar dureza. Há candidatos razoáveis a sucessores de Sharon. Mas, se houver o teste da dureza, e dado o desastre político palestino, dias sombrios virão.

@ - vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Editoriais: POLÊMICA NA CULTURA

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Morte de câimbra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.