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VINICIUS TORRES FREIRE
Ariel Sharon, o homem, o mito
SÃO PAULO - Uma das ironias do recente processo de canonização de
Ariel Sharon, além do termo religiosamente incorreto, é o fato de o premiê de Israel perfumar-se em odor de
santidade por abjurar uma parte do
credo político de toda uma vida.
Aliás, por parecer abjurar.
Foi por política menor que Sharon
desocupou Gaza, motivo da laudação piegas, oportunista e direitosa de
sua figura. Decerto é melhor um Sharon pragmático do que alucinado.
Mas Sharon apenas desarma parte
dos ódios e horrores que causou, como a provocação eleitoral que relançou sua carreira, em 2000, e deu origem a quatro anos de guerra, ou de
que foi cúmplice, como o massacre de
palestinos no Líbano, em 1982.
Sharon sempre pregou a ocupação
das propriedades palestinas. Continuava a fazê-lo agora, procurando
anexar terras na Cisjordânia e em Jerusalém, criando guetos palestinos
com seu muro ilegal. Mas Gaza não
valia os custos militares e políticos.
Ao sair de lá, isolou a direita, com
quem corria o risco de micar, e ganhou a confiança do centro de Israel.
Mas trata-se de política unilateral,
não um caminho para a paz.
A morte de Arafat e a ascensão de
Mahmoud Abbas auxiliaram o movimento de Sharon, pois a princípio
houve uma contenção da desordem
palestina, que, porém, já referve.
O Fatah, partido de Arafat e Abbas,
sabotou o governo de Abbas. Continua corrupto, paga milícias terroristas e deve ir dividido à eleição legislativa. Abbas adia a eleição desde o
ano passado, pois teme a votação do
Hamas. Gaza virou campo de guerra
de gangues e milícias.
A "velha guarda" do Fatah e os terroristas do Hamas tentam dar cabo
de qualquer tentativa de racionalidade na Palestina. O lugar-comum
da política israelense diz que, a fim
de ter apoio político para fazer a paz,
é preciso ser de direita, mostrar dureza. Há candidatos razoáveis a sucessores de Sharon. Mas, se houver o teste da dureza, e dado o desastre político palestino, dias sombrios virão.
@ - vinit@uol.com.br
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