São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Nairu

SÃO PAULO - Sou do tempo em que desemprego de 5% nos Estados Unidos era o limite da Nairu. Tempos relativamente recentes. Durante a era Clinton (o marido), encerrada faz apenas sete anos, era expressão de uso periódico nas análises econômicas. Nairu quer dizer "non accelerating inflation rate of unemployment", ou taxa de desemprego que não acelera a inflação.
Significa, grosso modo, o seguinte: quando o desemprego cai abaixo de 5%, é quase pleno emprego, a economia está bombando, todo mundo está comprando adoidado e a inflação tende a disparar.
Naquela época, eu ficava olhando o índice de desemprego nos EUA, esperando que caísse abaixo dos 5%, só para ver a explosão inflacionária que se seguiria. Caiu, rodou abaixo de 5% um tempão, mas nada de ocorrer o espetáculo da inflação. Ninguém mais falou em Nairu.
Eis que, agora, a manchete da Folha é dedicada aos 5% de desemprego, mas não como limite para acelerar a inflação e, sim, como limite para acelerar a recessão. De vez em quando me bate a sensação de que somos um problema, sendo o "somos" nós, gente que trabalha, por gosto ou por obrigação.
Se há muitos de nós trabalhando, provocamos inflação. Se há muitos de nós desempregados, provocamos recessão. Em resumo, atrapalhamos todas as mais elaboradas previsões dos economistas. Um deles ainda criará uma bomba de nêutrons que eliminará gente mas preservará números. É mais fácil lidar com a vida sem seres humanos, suponho.
De volta ao trilho principal, sugiro a você, que é gente, mas não é economista e, portanto, não tem certezas, que olhe com cuidado e ceticismo para todas as certezas. A propósito, corrijo ditado espanhol citado aqui quinta-feira. O certo (vale para o tema de hoje) é "nada é verdade ou mentira; tudo depende da cor da lente com que se olha".

crossi@uol.com.br


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