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CLÓVIS ROSSI
Nairu
SÃO PAULO - Sou do tempo em
que desemprego de 5% nos Estados
Unidos era o limite da Nairu. Tempos relativamente recentes. Durante a era Clinton (o marido), encerrada faz apenas sete anos, era expressão de uso periódico nas análises econômicas.
Nairu quer dizer "non accelerating inflation rate of unemployment", ou taxa de desemprego que
não acelera a inflação.
Significa, grosso modo, o seguinte: quando o desemprego cai abaixo
de 5%, é quase pleno emprego, a
economia está bombando, todo
mundo está comprando adoidado e
a inflação tende a disparar.
Naquela época, eu ficava olhando
o índice de desemprego nos EUA,
esperando que caísse abaixo dos
5%, só para ver a explosão inflacionária que se seguiria. Caiu, rodou
abaixo de 5% um tempão, mas nada
de ocorrer o espetáculo da inflação.
Ninguém mais falou em Nairu.
Eis que, agora, a manchete da Folha é dedicada aos 5% de desemprego, mas não como limite para acelerar a inflação e, sim, como limite para acelerar a recessão.
De vez em quando me bate a sensação de que somos um problema,
sendo o "somos" nós, gente que trabalha, por gosto ou por obrigação.
Se há muitos de nós trabalhando,
provocamos inflação. Se há muitos
de nós desempregados, provocamos recessão.
Em resumo, atrapalhamos todas
as mais elaboradas previsões dos
economistas. Um deles ainda criará
uma bomba de nêutrons que eliminará gente mas preservará números. É mais fácil lidar com a vida
sem seres humanos, suponho.
De volta ao trilho principal, sugiro a você, que é gente, mas não é
economista e, portanto, não tem
certezas, que olhe com cuidado e
ceticismo para todas as certezas. A
propósito, corrijo ditado espanhol
citado aqui quinta-feira. O certo
(vale para o tema de hoje) é "nada é
verdade ou mentira; tudo depende
da cor da lente com que se olha".
crossi@uol.com.br
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