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Questão de prioridade
NINGUÉM diria que sobra
ética na administração
pública brasileira. Por vezes, entretanto, é como se escândalos gravíssimos inexistissem,
como se atitudes de abuso, deboche e desrespeito fossem desconhecidas do cotidiano político
-e, na falta de assuntos substanciosos o bastante, viessem à baila
questões de escrúpulo talvez
mais pertinentes em Genebra
que em Brasília.
Do ponto de vista formal, é inadequado que o presidente de um
partido político ocupe simultaneamente o cargo de ministro. O
artigo 3º do Código de Conduta
da Alta Administração Federal
torna insustentável a situação do
ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que acumula com esse posto a
função de presidente do PDT.
Ainda que não seja o caso de
apoiá-lo em sua dupla pretensão,
há de se convir que o país seria
outro se a falta de ética entre os
políticos se resumisse a casos
desse tipo. A questão surgiu no
mês passado, quando a Comissão de Ética Pública do governo
federal expôs suas restrições ao
comportamento do ministro.
Com isso, ganhou destaque
imprevisto aquilo que, na verdade, há de mais desalentador nas
circunstâncias. Trata-se do estado de semi-abandono em que se
encontra a própria Comissão de
Ética Pública, criada em 1999.
Encarregada de avaliar as atitudes de mais de 1.600 altas autoridades federais, tem funções consultivas, reúne-se mensalmente
apenas e nem sempre há quórum
para suas deliberações.
A Presidência da República,
que deve nomear seus ocupantes, nem sequer se dá ao trabalho. Uma vaga ficou durante quase um ano e meio sem ser preenchida; dos sete membros da comissão, há ainda dois por indicar.
Trabalho -mais relevante do
que o envolvido no caso Lupi-
decerto não faltaria a uma comissão desse tipo. Mas a ética, ao
que consta, não está entre as
prioridades do governo federal.
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