São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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Os pés pelas mãos

Opção da FAB por modelo sueco é mais um episódio que expõe as gafes e as precipitações do governo Lula na compra de caças

TRAPALHADA é um termo neutro, pois não pressupõe má-fé, para qualificar a atuação do governo Lula na escolha do caça que o Brasil pretende adquirir. Esse intrigante roteiro, pontuado por gafes e precipitações, ganha um novo capítulo com a revelação, feita por esta Folha, de que avaliação técnica da Aeronáutica dá preferência ao sueco Gripen.
O francês Rafale, a favor do qual o Planalto chegou a publicar nota oficial em setembro, ficou em terceiro e último lugar, precedido pelo F-18 americano, no extensivo relatório elaborado pela FAB. Os três modelos de avião de combate foram pré-selecionados pelo Brasil, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está formalmente habilitado a optar por qualquer um deles.
Essa discricionariedade, porém, deveria escorar-se em sólidos argumentos técnicos e pôr-se a serviço de estratégias de negociação que otimizassem a relação entre custo e benefício da operação -a aquisição de 36 caças pelo Brasil, por cerca de R$ 10 bilhões, é uma compra de grande porte por padrões internacionais. Não foi essa a rotina adotada pelo governo brasileiro.
Anunciar a preferência por um dos três modelos quando a concorrência internacional ainda está em curso, além de um desrespeito aos outros competidores, é uma péssima maneira de tentar baixar o preço -ou ampliar benefícios, como o grau de transferência tecnológica - do equipamento a ser adquirido. Antecipar-se à avaliação técnica dos militares soa como menoscabo pela corporação que, de resto, vai operar as aeronaves durante 30 anos.
Após décadas de penúria orçamentária -por conta do baixo crescimento econômico e do excessivo peso de despesas com pessoal inativo-, o Brasil pode enfim impulsionar o projeto de reequipar as Forças Armadas. Os 36 caças novos, que começarão a substituir parte dos 107 existentes, aumentarão a mobilidade e o poder dissuasório dos militares em sua missão de patrulhar um país continental.
Nesse programa, que também prevê investimentos em navios e submarinos, convencionais e a propulsão nuclear, há quem defenda, dentro e fora do governo, que Brasília constitua parceria preferencial com Paris. Talvez o Brasil tenha acesso a mais conhecimentos, lucros e tecnologia se fizer essa opção. Talvez, entretanto, fique perigosamente refém dos humores dos governantes franceses de turno.
O debate nesses termos é legítimo, e há bons argumentos dos dois lados. Mas qualquer decisão nesse campo não pode prescindir de uma rigorosa avaliação técnica, que leve em conta todos os aspectos do negócio.


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