São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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Petroquímica oficial

SOB PRETEXTO de criar uma supercompanhia para competir no cenário internacional, o governo Lula patrocina mais um grupo privado em marcha pelo controle de um setor chave da economia. Com a aquisição da Quattor pela Braskem e pela Petrobras, em via de consumar-se, toda a petroquímica nacional ficaria sob a influência da Odebrecht, empreiteira que se agigantou em contratos e relações com o Estado.
Das quatro centrais petroquímicas em funcionamento no país, a Odebrecht já administrava duas, Camaçari (BA) e Triunfo (RS). Com os ativos da Quattor viriam as outras duas, PQU (SP) e RioPol (RJ).
A nova Braskem saltaria, assim, para a posição de 11º maior produtor mundial de insumos petroquímicos, como o eteno, base para a fabricação de resinas e plásticos utilizados na indústria de transformação. Com outros investimentos no México e na Venezuela e a entrada em operação em 2014 da quinta central (Comperj), caso esta também termine sob controle da Braskem, a superpetroquímica chegaria ainda mais perto do topo no ranking mundial.
Seria difícil concluir o negócio sem o empenho articulador do Planalto e o envolvimento bilionário da Petrobras. Como no caso da aquisição da Brasil Telecom pela Oi/Telemar, em que até alterações legais foram providenciadas, a administração petista não mede esforços nem capital para encorpar e multiplicar seus tentáculos na economia.
Ao fazê-lo, o governo federal favorece grupos empresariais selecionados. Fortalece, em paralelo, uma rede de interesses, poder e negócios que inclui o PT, corporações estatais e fundos de pensão. Ressuscita, dessa maneira, o intervencionismo demiúrgico e perdulário -quando não corrupto- dos tempos da ditadura militar e do varguismo.
O lulismo não se limita, porém, a tentar reverter a roda da história. Na mesma empreitada, arrisca comprometer o desenvolvimento nacional ao criar condições adversas para o barateamento de insumos básicos. Que ao menos mobilize outras instituições estatais, como os órgãos de defesa da concorrência, para prevenir os efeitos colaterais dessa monopolização.


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