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Autonomia eficiente
Não há sinal de ameaça à autonomia universitária em São Paulo, mas instituições precisam gastar melhor sua verba
CONSAGRADA na Constituição de 88 e efetivada
em São Paulo pelo decreto que lhes destinou
uma fração do ICMS, a autonomia das universidades públicas é
uma conquista a ser preservada.
A experiência mundial demonstra que financiamento regular e arbítrio para decidir como gastar os recursos são fatores
fundamentais para o sucesso de
uma universidade. Em São Paulo, a autonomia conferida a USP,
Unesp e Unicamp -responsáveis por quase metade da produção científica nacional- estabilizou suas finanças e dificultou a
ingerência dos governantes de
turno em temas que só dizem
respeito ao ambiente acadêmico.
O governo José Serra emitiu,
neste início de mandato, sinais
confusos sobre a questão. Estabeleceu que o secretário de Ensino Superior presidiria o conselho de reitores (Cruesp); congelou provisoriamente parcela dos
repasses às instituições; e exigiu
das universidades solicitação
prévia à pasta do Planejamento
sempre que elas decidirem mudar o destino de suas verbas.
Parte da comunidade acadêmica entendeu esse conjunto de
atos como uma ameaça à autonomia e reagiu. As atitudes e as
explicações do governo estadual,
no entanto, não permitem vislumbrar a existência de nenhum
plano no sentido de alterar o
"statu quo" universitário.
O decreto sobre o Cruesp foi
revogado. O congelamento de repasses se aplica a menos de 3%
da verba devida, e o governo promete restituí-la assim que for
aprovado o Orçamento de 2007
do Estado. A inclusão das universidades no sistema estadual de
controle e registro de gastos
(chamado Siafem) foi feita para
dar transparência a essas despesas, afirma a gestão Serra.
Os argumentos são razoáveis,
mas todo esse desgaste a respeito
da autonomia universitária poderia ter sido evitado pelo próprio governo. As decisões que envolvem reitores e universidades
deveriam ter sido apresentadas
aos dirigentes acadêmicos e com
eles debatidas desde o início.
O modo atabalhoado de lidar
com o tema, aliás, vem dificultando que o público tome ciência
dos projetos da administração
paulista para as universidades
públicas do Estado. Não basta, a
esse respeito, o governo reafirmar seu compromisso com a autonomia, de um lado, e com a
maior participação dessas instituições no desenvolvimento de
São Paulo, do outro -ninguém
de bom senso discordaria desses
princípios genéricos.
A autonomia universitária, por
exemplo, não impede a implantação de um programa para aumentar a produtividade e a eficiência na USP, na Unesp e na
Unicamp. Combater os notórios
desperdícios de recursos nessas
instituições significa dar satisfação a seus mantenedores (40 milhões de paulistas). O orçamento
das três universidades em 2006
foi de R$ 4,2 bilhões -56% a
mais, por exemplo, que o previsto para Transportes Metropolitanos, pasta que cuida do metrô.
Decidir onde gastar os recursos é uma questão acadêmica.
Otimizar tais dispêndios, para
que possam produzir mais benefícios, é um objetivo que interessa a todos os cidadãos e deve ser
perseguido pelo governo.
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