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TENDÊNCIAS/DEBATES
Fórum Social Mundial na África
ODED GRAJEW
Nosso maior desafio sempre foi explicar, especialmente para a mídia, que o Fórum Social Mundial não é um evento, mas um processo
FOI REALIZADA entre os dias 20 e
25 de janeiro deste ano, em Nairóbi, capital do Quênia, a sétima
edição anual do Fórum Social Mundial (FSM). Durante cinco dias, 70 mil
representantes de milhares de organizações sociais vindos de mais de
cem países participaram de aproximadamente mil atividades.
Para nós, ir para a África representou um enorme desafio pelas precárias estruturas materiais e organizativas e pela fragilidade da sociedade civil naquele continente. Mas, ao mesmo tempo -e também por tudo isso-, estarmos no continente que representa o que de pior o atual modelo de
globalização produziu em termos sociais, econômicos, ambientais, culturais e políticos teve uma enorme importância simbólica e política.
Nosso maior desafio sempre foi explicar, especialmente para a mídia,
que o FSM não é um evento, mas um
processo.
Ao longo da história, uma minoria
tem dominado e explorado a maioria
da população. Só a força não seria suficiente para manter essa situação.
Com o decorrer do tempo, a maioria
acaba aceitando passivamente essa
situação -acreditando nas mentiras
que lhe são contadas e que justificam
a aceitação do domínio da minoria- e
não consegue se juntar para mudar
essa situação.
O processo FSM procura transformar essa realidade, mostrando que
outro mundo e outra globalização são
possíveis, priorizando as pessoas, a
justiça social, os direitos humanos, o
desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz e conectando organizações e redes para ganhar força e poder social e político.
Os eventos anuais, locais, regionais
e temáticos abrem espaço para que as
organizações sociais realizem suas
atividades e se articulem com outras
para reforçar suas atuações. Foi esse
processo que em poucos anos produziu tantas transformações.
Basta lembrar que no ano de 2001,
quando foi realizado o primeiro FSM
em Porto Alegre, o mapa político da
América Latina era completamente
diferente, e em Davos, onde até hoje
se acredita que o mercado resolverá
todos os problemas sociais, Carlos
Menem era o grande herói, a defesa
do meio ambiente e o alerta sobre o
aquecimento global eram coisa de radicais retrógrados e, na véspera da
Guerra no Iraque, nenhuma voz se levantou para alertar sobre os riscos da
escalada militar.
Na África, durante os dois anos de
preparação, a sociedade civil se mobilizou para a realização do fórum. O resultado foi fantástico. As organizações africanas, em sua maioria fragilizadas e desarticuladas, sem a ajuda de
governos, puderam se conectar, montar suas redes e realizar um FSM altamente organizado, dadas as enormes
dificuldades e as carências materiais
no continente. O fórum promoveu a
incorporação de muitas redes africanas nas redes internacionais e reforçou a pauta africana na agenda da sociedade civil internacional.
Uma novidade foi introduzida neste ano: o último dia foi consagrado à
apresentação das propostas de campanhas e mobilizações para 2007,
agrupadas em 21 temas, e que foram
elaboradas e articuladas pelas redes
internacionais durante o fórum.
Foi apresentado também o calendário dos diversos fóruns que irão se
realizar durante o ano, no qual ganha
destaque o primeiro Fórum Social
dos Estados Unidos, que se realizará
no final de junho, em Atlanta. No Brasil, teremos o Fórum Social Nordestino em julho, na Bahia.
Finalmente, o Conselho Internacional, cuja principal missão é expandir o processo do FSM, decidiu novamente inovar e assumir riscos, da
mesma maneira que fez quando acertadamente decidiu a ida para a Índia
em 2004, a realização do fórum policêntrico em 2006 (Venezuela, Mali e
Paquistão) e, em 2007, na África.
Em janeiro de 2008, haverá o maior
número possível de eventos, mobilizações e fóruns pelo mundo (inclusive no Brasil) para acelerar a expansão
global do processo, reforçar as redes e
ampliar as mobilizações e campanhas. Esses encontros se conectarão
nos dias 26 e 27 de janeiro numa
grande manifestação mundial.
Em janeiro de 2009, o FSM será
realizado em um país a ser escolhido
em junho deste ano.
O aquecimento global, a concentração crescente de renda e riqueza e o
acirramento dos conflitos, frutos do
atual modelo de globalização, representam uma enorme ameaça para a
humanidade e provam que um outro
mundo, diferente do mundo de Davos, não só é possível mas também urgentemente necessário.
ODED GRAJEW, é presidente do Conselho Deliberativo do
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,
idealizador do Fórum Social Mundial, idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq (1990-1998). Foi assessor especial do presidente da República (2003).
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