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Sangue-frio
BC fala em subir juros e já começa a agir para esfriar o crédito, mas o cenário de aceleração firme da inflação ainda é incerto
DEPOIS DE muito tempo,
o acompanhamento
diário da miríade de
indicadores inflacionários existentes no Brasil volta
a atrair atenção. Grandes gestores de patrimônio, por exemplo,
aguardam a divulgação, amanhã,
do IPC -calculado pela Fipe para a cidade de São Paulo- e, na
sexta, do IGP-DI nacional -da
FGV-, ambos mostrando a evolução de preços em janeiro.
Esse movimento foi deflagrado
pela ata da reunião de 23 de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom). Apesar de ter
mantido a taxa básica em 11,25%
ao ano, o Banco Central deixou
claro, pela primeira vez desde
que iniciou a redução da Selic,
em setembro de 2005, que pode
aumentar os juros por conta do
risco inflacionário.
A elevação progressiva das expectativas sobre alta dos preços
justifica a cautela. De acordo
com o BC, bancos e consultorias
projetam, em média, que o IPCA
de 2008 terá alta muito próxima
aos 4,5%, o centro da meta perseguida pelas autoridades.
Numa primeira tentativa de
esfriar a procura por crédito, o
BC anunciou na semana passada
o empréstimo compulsório para
operações de leasing, muito usadas no financiamento de veículos, que cresceram 86% em 2007.
O dispositivo, que vale a partir de
7 de março, vai retirar de circulação um valor estimado em R$ 40
bilhões até o fim do ano.
O BC afirma na ata que, se a escalada das expectativas de inflação prosseguir, passando a indicar uma taxa claramente superior ao centro da meta, e em tendência de elevação, vai aumentar
a Selic. Os analistas passaram a
considerar esse desdobramento
cada vez mais provável. Alguns
elementos podem, no entanto,
impedir que se materialize.
Um dos aspectos que constituem foco de preocupação é a
possibilidade de descompassos
entre a evolução da oferta e da
demanda doméstica. O documento do BC menciona sondagens relativas ao ambiente de negócios na indústria que apontam
crescentes dificuldades para elevar o volume de mercadorias fabricadas, por conta da escassez
de fatores de produção.
Mas a FGV acaba de publicar a
informação de que, neste início
de ano, diminuiu a proporção de
indústrias que consideram a falta de matérias-primas e de componentes um fator que as impede de produzir mais.
Outro elemento que poderia
inibir a produção, tornando-a insuficiente para atender à demanda, seria a escassez de máquinas
e equipamentos. No entanto,
nesse campo, a evolução recente
tem superado as mais otimistas
expectativas: o investimento para ampliar a capacidade de produzir cresce continuamente e a
taxas expressivas.
Os responsáveis pelo cálculo
dos índices de preços em várias
instituições, ademais, assinalam
que as pressões de demanda sobre os preços se mantêm bastante limitadas. Tudo somado, a melhor atitude do BC em relação
aos juros básicos ainda é manter
o sangue-frio e a Selic, até que o
cenário econômico, tanto doméstico como internacional, fique mais claro.
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