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RUY CASTRO
Lendas e mitos da bossa nova
RIO DE JANEIRO - Enquanto
aqui é Carnaval - só de blocos, o
Rio botou mais de 400 nas ruas de
quinta-feira até ontem-, é bossa
nova em plagas mais amenas.
Alheias ao couro que come na cidade, pessoas de toda parte escrevem
para dirimir suas dúvidas sobre o
gênero. Quem inventou a bossa nova? Onde? Como? Quando? Por
quê? Nenhum outro ritmo desperta
tanta curiosidade.
Por um lado, isto não é mau. Denota um certo sentimento de culpa,
pelo fato de o Brasil ter passado os
anos 70 e 80 ignorando a bossa nova. Denota também desinformação
-porque, se há um tipo de música
tão esmiuçado de 1990 para cá, é a
bossa nova. Mesmo assim, certas
lendas a seu respeito continuam
mais difíceis de matar que Rasputin. Eis aqui algumas, com as versões corretas.
"A bossa nova era cantada baixinho por ter nascido nos apartamentos de Copacabana". Primeiro, ela
não nasceu nos apartamentos. Segundo, cantá-la baixinho já fazia
parte de sua proposta. Aliás, os tais
apartamentos em que alguns artistas se reuniam, como o de Nara
Leão, o do casal Dulce e Bené Nunes e outros, eram de classe média
alta, com salas enormes, paredes
grossas e, mesmo que eles tocassem
alto, não incomodariam ninguém.
"O primeiro show de bossa nova
aconteceu em 1958 na Hebraica, em
Laranjeiras". Não, não foi no famoso clube. Foi no Grupo Universitário Hebraico, uma modesta associação de estudantes no Flamengo.
"O Beco das Garrafas tinha esse
nome porque os vizinhos jogavam
garrafas sobre o público que ficava
do lado de fora das boates". Nesse
caso, a pontaria dos moradores dos
dois edifícios que formam o beco
era lamentável -porque uma garrafa atirada lá de cima seria a morte
imediata de quem a levasse na cabeça. E ninguém jamais morreu no
Beco com uma garrafa na cabeça.
Nem de Crush.
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