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FERNANDO GABEIRA
O triângulo do poder
RIO DE JANEIRO - As duas Casas
do Congresso estão nas mãos do
PMDB. Isto é resultado de um longo processo. Na Câmara, a principal
comissão já estava com eles. É a de
justiça, tocada pelo PMDB do Rio,
às vezes tão acossado pela própria
justiça.
A tática dos burocratas de esquerda foi a mesma do Leste Europeu. Para quem obedece, tudo. Para
os que se opõem, a marginalidade.
A sorte é a existência da imprensa. Os mortos-vivos para a burocracia são os que ganham os prêmios
de performance parlamentar. Acabam sobrevivendo todos, o que não
acontecia no Leste Europeu.
O PMDB significa uma ponta do
triângulo. Os dois outros partidos
disputam a presidência. Será o sócio em qualquer hipótese.
Para levar adiante seu projeto nacional, Bismarck mantinha os partidos presos às suas pequenas causas. Eles perdiam o interesse em definir o futuro, desde que fossem
atendidos.
Este quadro indica que o Brasil
não muda tão cedo. Eleição como a
americana, com grande participação popular, será difícil. Será difícil
também inaugurar uma era de responsabilidade.
Assim como não me arrisco a fazer grandes previsões otimistas, é
preciso desconfiar também do pessimismo. Nos períodos de crise, os
saltos são maiores. A voracidade fisiológica vai atingir o ponto máximo. Mas os mortos-vivos pelo menos podem esperar uma Primavera
de Praga. Tanto Sarney como Temer não são vingativos.
Uma perversão no Congresso foi
jogar a agressividade dos fisiológicos, em número esmagador, contra
a minoria que procura interpretar a
opinião pública. Do ponto de vista
eleitoral, até nos ajuda. Mas a vida
em Brasília torna-se um inferno.
Calor, vaias, ressentimento. Que
vengan los toros, quem sabe, dessa
vez, mais leves.
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