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Editoriais
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Debaixo do pano
Tentativas de controle público sobre gastos de campanha esbarram, mais uma vez, nas resistências de partidos
NUMA RARA manifestação de convergência,
representantes do PT,
do DEM e do PSDB se
insurgiram, nesta semana, contra uma norma visando o fim das
chamadas "doações ocultas" nas
campanhas eleitorais.
Pelo mecanismo até agora em
vigor, não é difícil esconder da
opinião pública os vínculos de
interesse entre um político e
seus financiadores privados.
Basta que a empreiteira, o lobista
ou o fornecedor de serviços para
uma administração encaminhem suas contribuições não para a campanha individual de determinado postulante, mas para
o partido a que pertence.
É o partido, então -através de
suas instâncias federais-, quem
se encarrega, por exemplo, de
entregar os recursos ao candidato de um Estado ou município,
cujas ligações com grupos específicos se veem, assim, dissolvidas na indistinção geral.
Recente determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
procura lançar alguma luz sobre
essa noite em que, para usar de
um velho bordão, todos os gatos
são pardos. Pretende-se que, nas
eleições deste ano, cada candidato seja obrigado a ter identificados os seus doadores no prazo
máximo de um mês depois das
eleições, e que tanto partidos
quanto candidatos tenham contas bancárias próprias para suas
finanças de campanha, promovendo-se a necessária separação
dos respectivos caixas.
O ideal, na verdade, seria que
em vez do tradicional e, a esta altura, anacrônico processo das
prestações de contas posteriores
ao pleito, fosse posto em prática
mecanismo de acompanhamento on-line das doações e das despesas eleitorais. Mas a revolta de
petistas, demistas e tucanos já se
faz sentir com muito menos.
"Missão ingrata e impossível",
diz o documento que assinaram
em conjunto contra as novas, e
relativamente limitadas, intenções do TSE. Como, no âmbito
do tribunal, as resoluções quanto
ao financiamento de campanha
ainda estão em fase de consulta
pública, os dirigentes partidários
confiam reverter a tendência dos
magistrados.
Repetem, a propósito de gastos
eleitorais, um argumento conhecido: se se dificultam as condições para o financiamento legal
de uma campanha, o resultado
não será outro que não o de se intensificar o recurso ao caixa dois.
Ainda que devam reconhecer-se dificuldades práticas numa ou
noutra medida, o princípio desse
raciocínio valeria, a rigor, para
qualquer legislação humana. "Se
isto for proibido, serei obrigado a
entrar na delinquência" -é o que
dirá o desonesto de sempre.
Seria aliás saudável, num ambiente em que todos se dizem a
favor da reforma política, ouvir a
opinião de figuras como Dilma
Rousseff, José Serra, Lula ou Aécio Neves acerca das doações
ocultas. Enquanto as instâncias
menores do PT, do PSDB e do
DEM tratam de defender o sistema, seus próceres tendem a agir
-como é sempre o caso nos negócios de campanha- como se
nada tivessem a ver com isso.
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