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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Para onde a política exterior?
FINALMENTE, debate-se política exterior no Brasil. Sinal
de avanço: a política externa
de uma democracia é assunto de
toda a nação. A discussão, porém,
ameaça tomar rumo prejudicial a
nossos interesses duradouros.
Transmite-se, de muitas maneiras diferentes, a mesma mensagem: o eixo sul-sul, que a atual política brasileira se dedica a construir,
sacrificaria as relações com os países ricos, a começar pelos Estados
Unidos, onde se concentrariam
nossos interesses atuais e futuros.
Deixemos em segundo plano, exigem os críticos, a mania da construção sul-americana e a tese da
aproximação com os outros países
continentais em desenvolvimento
para dar primazia novamente às
relações com os poderosos e os endinheirados.
A crítica revela a confusão, tradicional no Brasil, entre comercialismo estreito e realismo político
no trato da política exterior. País
que tenha ou que queira ter envergadura não se deixa cair em tal
confusão.
Realismo político é entender que
só ganhamos força nas negociações
comerciais de agora se atuarmos
como eixo de duas forças maiores:
uma sul-americana, outra criada,
por etapas, em iniciativas compartilhadas com alguns dos maiores
países em desenvolvimento. Realismo político é reconhecer que só
assim pode o Brasil, o único dos
países grandes em desenvolvimento que aceitou privar-se de armamento nuclear, credenciar-se a ser
levado a sério pelos Estados Unidos. Realismo político é vislumbrar, mais adiante, dois grandes interesses da nação. Para atendê-los,
a política exterior brasileira teria
de transformar-se, até radicalmente. Transformar-se, porém em direção oposta ao rumo pretendido
por seus antagonistas.
O primeiro interesse é o de trabalhar com muitos governos e com
muitas correntes de opinião mundo afora para mudar o sentido da
globalização. Buscar globalização
que maximize a reconciliação de
trajetórias divergentes de desenvolvimento, dentro de uma economia mundial que se abra progressivamente, em vez de maximizar o livre comércio seletivo e hipócrita
de hoje (livre para o movimento
das coisas, não das pessoas.)
O segundo interesse é o de atuar
com outros para ajudar a construir
conjunto de contrapesos à hegemonia dos Estados Unidos. Conjunto que viabilize, pacificamente,
a transição ao pluralismo ordenado de poder que a humanidade acabará obtendo por meio da guerra se
não a puder alcançar dentro da paz.
Para isso, porém, teria o Brasil de
pensar grande.
www.robertounger.net
ROBERTO MANGABEIRA UNGER escreve às
terças-feiras nesta coluna.
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