|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Soberania e paz
RIO DE JANEIRO - Generalizou-se um raciocínio aparentemente
óbvio: se forças do Exército brasileiro podem e estão policiando cidades, ruas e favelas do Haiti, por
que não fazem o mesmo em nossas
cidades, ruas e favelas? Tempos
atrás, soldados brasileiros também
foram policiar a região do Suez, que
vivia uma situação difícil, ameaçando até mesmo um conflito mundial.
Acontece que, tanto em Suez como agora no Haiti, como membro
da Organização nas Nações Unidas,
também conhecida como ONU, o
Brasil foi designado para formar a
tropa internacional para policiar
uma região conflagrada, em estágio
de guerra civil. Pensando bem, é o
nosso caso atual. A onda de violência e a incapacidade do Estado em
normalizar nossa vida doméstica
criaram uma situação de guerra civil não declarada, mas existente em
nosso dia-a-dia.
Seria o caso de abdicarmos da
nossa soberania e apelar para a entidade mundial criada para ajudar
países em dificuldade? Aceitar a intervenção de tropas estrangeiras
para suprir nossa necessidade de
ordem e paz? Pessoalmente, não
vou tão longe. Fico pensando na
possibilidade de mariners patrulharem a Linha Vermelha. Seria o
primeiro passo para forças internacionais tomarem conta da Amazônia, dada a nossa incapacidade de
acabar com o desmatamento da
maior floresta do mundo.
Haveria uma hipótese dentro da
hipótese: membro da ONU, o Brasil
poderia ser convocado para combater a violência, o contrabando e o
tráfico, não exatamente no Haiti,
mas aqui mesmo, dentro de nossas
fronteiras.
Não mais prevaleceria o argumento de que as forças armadas
não foram feitas para cumprir um
papel policial. O Brasil continuaria
um país soberano e talvez fôssemos
capazes de saber, afinal, onde estão
os ossos de Dana de Tefé.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Línguas diferentes Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: Para onde a política exterior? Índice
|