São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Hillary respira

Vitória da pré-candidata em dois Estados grandes indica que disputa no Partido Democrata deverá se prolongar

ENQUANTO o partido do governo nos EUA já tem o candidato à sucessão de George W. Bush definido, o da oposição deve continuar dividido, talvez até a convenção nacional de agosto, em Denver.
A seqüência de 11 triunfos seguidos de Barack Obama foi interrompida ontem com a vitória de sua adversária, Hillary Clinton, nas primárias dos Estados de Ohio e Texas.
A não ser que ocorra algum acontecimento dramático, Clinton e Obama chegarão a Denver sem o número necessário de delegados para assegurar a indicação. A decisão por um deles ocorrerá por meio de articulações políticas e da opção dos "superdelegados" (não eleitos), que são os figurões do Partido Democrata.
As diferenças programáticas entre os dois aspirantes à candidatura oposicionista são mínimas. Como ocorre com freqüência nos EUA, a preferência do eleitorado se concentra mais em aspectos da personalidade ou da biografia dos concorrentes do que em propostas de governo.
Uma das poucas discordâncias reais entre os dois está no tema do seguro-saúde, um dos mais importantes para a população do país. Dezenas de milhões de americanos não contam com um programa de assistência médica que os proteja.
A geração "baby-boom" -pessoas nascidas logo após a Segunda Guerra Mundial-, muito relevante entre os formadores de opinião pública, está chegando à faixa etária em que mais necessitará desse tipo de assistência.
Hillary Clinton propõe um sistema de seguro-saúde universal e obrigatório; Obama sugere que a adesão ao programa seja voluntária, embora com o objetivo de abranger todos os cidadãos.
No mais, é difícil distinguir os dois adversários. O debate tem girado em torno da experiência de cada um para lidar com os grandes problemas do país e do mundo, do seu grau de comprometimento com mudanças significativas, da firmeza e antigüidade com que se opuseram ao envolvimento militar dos EUA no Iraque, da capacidade que têm de despertar entusiasmo entre os segmentos do eleitorado mais vitais para a vitória no pleito em novembro: jovens, independentes, hispânicos, negros.
Apesar disso, é fácil prever que um governo Hillary Clinton seguiria as grandes linhas mestras da administração de seu marido, Bill, nos anos 1990. Ênfase no multilateralismo nas relações internacionais, presença moderada do Estado na economia doméstica, projetos sociais mais abrangentes que os dos republicanos -embora mais modestos do que os do período do "New Deal" de Roosevelt- e preferência por posições de centro-esquerda nas questões morais.
Quanto a Obama, sua perspectiva de governo permanece uma grande incógnita, já que seu histórico como político nacional é ralo e seus programas de governo, genéricos.
A demografia do apoio aos dois, no entanto, é clara. Hillary Clinton tem sua base em mulheres, idosos, hispânicos, setores de menor renda familiar e menor instrução formal; Obama, em homens, negros, pessoas com mais renda e mais instrução.


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