São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Virado à paulista

SÃO PAULO - Depois da inauguração da cidade administrativa -a nova sede do governo de Minas Gerais-, Aécio Neves recebeu as cúpulas do PSDB e do Democratas num almoço no Palácio da Liberdade, a atual sede do governo.
Do espaço planejado por Oscar Niemeyer a 17 km do centro de Belo Horizonte, onde havia mais de 6.000 pessoas, algumas dezenas de convidados se deslocaram para o velho palácio neoclássico no coração da cidade, construído em 1897.
Seu interior pomposo é um monumento típico da belle époque. A escadaria art nouveau, o tapete vermelho, o ambiente elegante, mas um tanto solene e antiquado, parecia mais apropriado que a "Brasilinha" de Aécio para servir de palco ao teatro dos tucanos.
E teatro é a palavra. Embora os tucanos andassem pelos salões sem saber ao certo que papéis representar. Pareciam tatear em busca de um enredo, uma máscara, uma saída. Homenagear Aécio, o anfitrião, o vice que pode salvar o barco? Cortejar Serra, o candidato que insiste em se comportar como se não o fosse? E o que fazer com Ciro Gomes, amigo de um, inimigo do outro?
O presidenciável do PSB, a rigor, estava em casa num ninho em que todos pareciam bem estranhos entre si. De resto, a pouca intimidade entre os tucanos no trato pessoal é algo digno de atenção.
Cada um se mostrava mais preocupado em não perder a conversa do outro do que em dizer alguma coisa. Mas não havia conversa do outro. Ninguém falava nada. As rodinhas se resolviam em platitudes, piadas duvidosas, risos amarelos, como a abafar desconfianças recíprocas, coisas malparadas.
E o que está mal resolvido é uma candidatura que, sim, virá, não se sabe quando, mas que nasce como se fosse a fórceps, sem convicção ou entusiasmo. Natimorta? Ainda não.
Fica como saldo a seguinte sensação: os tucanos, enfim, fizeram uma grande festa. E ela serviu para mostrar a todos que a união do partido não chega até a sobremesa.


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