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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Virado à paulista
SÃO PAULO - Depois da inauguração da cidade administrativa -a
nova sede do governo de Minas Gerais-, Aécio Neves recebeu as cúpulas do PSDB e do Democratas
num almoço no Palácio da Liberdade, a atual sede do governo.
Do espaço planejado por Oscar
Niemeyer a 17 km do centro de Belo
Horizonte, onde havia mais de
6.000 pessoas, algumas dezenas de
convidados se deslocaram para o
velho palácio neoclássico no coração da cidade, construído em 1897.
Seu interior pomposo é um monumento típico da belle époque. A
escadaria art nouveau, o tapete vermelho, o ambiente elegante, mas
um tanto solene e antiquado, parecia mais apropriado que a "Brasilinha" de Aécio para servir de palco
ao teatro dos tucanos.
E teatro é a palavra. Embora os
tucanos andassem pelos salões sem
saber ao certo que papéis representar. Pareciam tatear em busca de
um enredo, uma máscara, uma saída. Homenagear Aécio, o anfitrião,
o vice que pode salvar o barco? Cortejar Serra, o candidato que insiste
em se comportar como se não o fosse? E o que fazer com Ciro Gomes,
amigo de um, inimigo do outro?
O presidenciável do PSB, a rigor,
estava em casa num ninho em que
todos pareciam bem estranhos entre si. De resto, a pouca intimidade
entre os tucanos no trato pessoal é
algo digno de atenção.
Cada um se mostrava mais preocupado em não perder a conversa
do outro do que em dizer alguma
coisa. Mas não havia conversa do
outro. Ninguém falava nada. As rodinhas se resolviam em platitudes,
piadas duvidosas, risos amarelos,
como a abafar desconfianças recíprocas, coisas malparadas.
E o que está mal resolvido é uma
candidatura que, sim, virá, não se
sabe quando, mas que nasce como
se fosse a fórceps, sem convicção ou
entusiasmo. Natimorta? Ainda não.
Fica como saldo a seguinte sensação: os tucanos, enfim, fizeram uma
grande festa. E ela serviu para mostrar a todos que a união do partido
não chega até a sobremesa.
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