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Fúria árabe
Ainda é cedo para saber qual
rumo tomará a atual onda
de revoluções, mas o pior
cenário, com instabilidade de
alcance global, parece distante
A tempestade de revolta que
varre o mundo árabe há sete semanas já reverberou muito além
do que se previa. Quando o que
até há pouco parecia impossível
se torna uma realidade, o próximo
desafio é tentar discernir o potencial de tantos "dias de fúria" para
desestabilizar o equilíbrio geopolítico que, mal ou bem, reinava naquela região estratégica do globo.
A "Revolução de Jasmim" derrubou o regime de 23 anos do tunisiano Zine el Abidine Ben Ali. A ditadura de 30 anos de Hosni Mubarak no Egito esfacelou-se em 18
dias de protestos. A Líbia, há 41
anos sob a mão de ferro do coronel
Muammar Gaddafi, encontra-se à
beira da guerra civil.
A onda de revoltas atinge, com
raras exceções, todo o norte da
África e do Oriente Médio. Nas últimas semanas, Arábia Saudita,
Argélia, Bahrein, Iêmen, Iraque,
Jordânia e Omã também foram
palco de manifestações. Houve
gradações distintas de virulência
e de amparo popular, mas a demanda por abertura política parece comum a todos os países.
Ainda não está claro o fio condutor que move revoltas em países
com economias e realidades sociais tão díspares, apesar da língua e da história compartilhadas.
Alto desemprego entre os jovens,
esgotamento diante da corrupção,
anseios democráticos e um certo
fascínio por bens e valores "ocidentais" parecem todos misturar-se no caldeirão de revoltas.
As implicações mais amplas da
onda de levantes, no entanto, diferem largamente. O principal foco de atenção no momento, do
ponto de vista geopolítico e econômico, é a Arábia Saudita -que
concentra as maiores reservas de
petróleo do mundo.
Até agora, parece pouco provável que uma rebelião derrube a dinastia de Saud. Os protestos da última semana foram protagonizados pelos xiitas, que não perfazem
15% da população e têm um histórico de insatisfação. Isso não exclui, no entanto, que haja um descontentamento real e latente em parcela mais ampla. Não por outro
motivo, a rica monarquia saudita
anunciou um pacote de benefícios
à população de US$ 36 bilhões.
O Egito, país que sempre exerceu liderança no mundo árabe e
tem papel-chave por suas boas relações com Israel, parece ter escapado do caos e caminha lentamente rumo à estabilidade. Os militares conduzem o processo de
transição para alguma democracia, e é natural que grupos islâmicos, como a Irmandade Muçulmana, ganhem voz. Mas não há sinais, por ora, de guinada na diplomacia do país.
A maior preocupação diz respeito à Líbia. Uma intensificação
dos ataques ordenados por Gaddafi contra civis e rebeldes levaria
a escalada de pressões por uma intervenção internacional, com consequências imprevisíveis.
Os EUA, principal potência militar, já moveram duas guerras recentes e impopulares no âmbito
muçulmano. Mesmo que sob os
auspícios da ONU, uma nova
aventura na região só levaria água
ao moinho de instabilidade.
De toda maneira, o pior cenário
do ponto de vista global -com extremistas islâmicos no poder, potências ocidentais metidas em atoleiros militares e um "terceiro choque" nos preços do petróleo- parece muito improvável.
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