São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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CORES DA DESIGUALDADE

Se o Brasil avançou em vários indicadores sociais ao longo da última década, é forçoso reconhecer que as melhorias se distribuíram de modo desigual entre brancos, de um lado, e negros e pardos, de outro.
Vale ressaltar que apenas 5,4% da população brasileira afirma que é negra, enquanto 54% se declaram brancos, e 39,9%, pardos, segundo dados do IBGE de 1999.
Quando se olha para os indicadores socioeconômicos, verifica-se que negros e pardos formam um grupo mais ou menos homogêneo, bastante diverso do dos brancos. Os números da Síntese de Indicadores Sociais da década de 90, divulgados anteontem pelo IBGE, mostram, por exemplo, que o analfabetismo cresce com a pigmentação da pele. Não sabem ler 8,3% dos brancos, 19,6% dos pardos e 21% dos negros.
A instrução é, por certo, uma forma de ascensão social, mas de modo mais acelerado para os brancos. Para cada ano de estudo extra, os brancos têm sua renda elevada em 1,25 salário mínimo. Já a renda dos negros e pardos cresce 0,53 salário mínimo.
Para tentar amenizar esse grave problema de desigualdade racial, muitos propõem, a exemplo do que se dá nos EUA, políticas de ação afirmativa, como a criação de cotas étnicas nas universidades públicas. É duvidoso que esse sistema funcione e é certo que cria uma série de distorções práticas e teóricas, como o desvirtuamento do sistema educacional baseado no mérito.
Na lógica das cotas, o mérito é sub-repticiamente substituído pela diferenciação calcada na cor da pele. Aplica-se o mesmo critério que se queria combater. Ademais, em troca da correção dos erros do passado, cria-se um entrave ao pleno desenvolvimento do sistema educacional.
Uma análise dos indicadores demográficos mostrará que outro nome possível para o grupo dos negros e pardos é "pobres". E pobreza se combate distribuindo renda. Os serviços públicos, por exemplo, precisam atingir um nível de qualidade capaz de instaurar, de fato, a igualdade de oportunidades.


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