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CLÓVIS ROSSI
Emoções, eu vivi
ROMA- A primeira eleição italiana
que me tocou cobrir foi a de 1975. A
carga política, ideológica e emocional era tremenda. Afinal, pela primeira vez, um partido comunista tinha reais chances de chegar ao poder, pela via eleitoral, em um país
europeu.
Havia, no entanto, uma lei de ferro, não-escrita, que proibia PCs de
governarem em países, como a Itália, membros da aliança militar anticomunista, a Otan (Organização
do Tratado do Atlântico Norte).
Enrico Berlinguer, então secretário-geral do Partido Comunista Italiano, até que inventou um certo
"eurocomunismo" para tentar driblar o veto. Era uma terceira via entre comunismo e capitalismo. O livre mercado sobreviveria e, acima
de tudo, sobreviveria a democracia
dita burguesa.
Não adiantou. O PCI foi de novo
derrotado.
Entre parênteses: no Brasil também houve veto não-declarado a
uma vitória de Lula. Até que ele se
rendeu incondicionalmente em
2002. Fecha parênteses.
Domingo que vem tem eleição de
novo, mas completamente desidratada de ideologias e emoções. Tanto
que o candidato mais forte da esquerda, o ex-comunista e ex-prefeito de Roma, Walter Veltroni, é um
incondicional admirador de Barack
Obama. Nos velhos tempos, comunista não podia admirar nenhum
norte-americano, menos ainda se
"presidenciável".
Fausto Bertinotti, que continua
comunista (da "Refundação Comunista"), mas não obstante presidia a
Câmara dos Deputados dissolvida
para a convocação da eleição, dá
bem a medida da desidratação ideológica ao chamar Veltroni de "Veltrusconi", uma mistura do sobrenome do esquerdista com o de seu
principal rival, o direitista Silvio
Berlusconi.
A desidratação da política trabalha a favor da manutenção do status
quo. Há quem goste. Eu prefiro o
contraditório forte, que leva a emoções fortes.
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