São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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Editoriais

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Atenção com a China

A PARTIR de outubro de 2008, Brasil e Argentina, líderes de um processo de integração regional, instituíram o Sistema de Pagamentos em Moeda Local das importações e exportações entre os dois países. O governo brasileiro tenta ampliar a utilização do real nas transações com outros países da América do Sul. Apoia, desse modo, a utilização de moedas locais no comércio regional para reduzir a dependência do dólar.
Na sexta-feira, no entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um passo perigoso. Propôs ao colega chinês, Hu Jintao, a utilização de suas respectivas moedas, real e yuan, no comércio bilateral, em substituição ao dólar.
Em 2008, as exportações brasileiras para a China somaram US$ 16,4 bilhões, sendo 60,3% de produtos básicos. As importações atingiram US$ 20 bilhões, fundamentalmente de produtos manufaturados. O déficit comercial foi de US$ 3,6 bilhões. Supondo o comércio bilateral em moedas locais, como seria efetuado esse pagamento para a China? Os chineses aceitariam pagamentos em reais?
Não interessa ao Brasil, vale lembrar, congelar essa estrutura de comércio extremamente desigual: exportam-se minérios de ferro e alimentos e importam-se máquinas e equipamentos.
Além disso, a proposta brasileira de diminuir a presença do dólar nas transações comerciais tem como contraface o fortalecimento da moeda chinesa. O regime de funcionamento do yuan, entretanto, é um dos mais obscuros e imprevisíveis mecanismos monetários do planeta -a começar pelo fato de que uma ditadura manipula a moeda como bem entende.
O Brasil, ao contrário do que propõe o presidente Lula, deveria liderar a resistência à penetração excessiva -e muitas vezes assentada em práticas desleais de comércio- dos interesses chineses na América do Sul.


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