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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Ópera do malandro
SÃO PAULO - Pelo andar da carruagem, com direito a foto ao lado
da rainha e elogios a céu aberto de
Barack Obama, Luiz Inácio Lula da
Silva ainda acaba recebendo o Prêmio Nobel. Não o da Paz, mas o de
Literatura, pelo conjunto da obra,
na ausência de um de Artes Cênicas, que lhe conviria melhor.
Não há por que discordar do político mais popular do mundo -Lula
é mesmo o cara. Primeiro propagou
a ficção da "marolinha" e dela desembarcou sem explicações. Depois responsabilizou os "brancos de
olhos azuis" pela crise. Assoprou e
mordeu, falou duro ou macio, disse
"A" e seu contrário, sempre conforme as conveniências. Agora, Lula tira nova casca e emerge do G20 como uma liderança, acolhido com
honrarias no clube dos poderosos.
Se o colegiado supranacional
contra a catástrofe mundial tivesse
de escolher seu urso de pelúcia, Lula seria o melhor candidato.
Ao paparicar o operário que
chegou lá, o mundo rico expia a sua
culpa sem correr riscos adicionais.
Quando não se sabe bem o que fazer, mas qualquer mudança radical
parece fora do horizonte, a falta de
convicções pode ser uma virtude.
No caso de Lula, é também um expediente de sobrevivência.
Ao dizer que ele é "boa pinta",
Obama está a um passo de fazer, na
figura de Lula, o elogio do jeitinho
brasileiro -da nossa eterna vocação para acomodar conflitos, da arte nacional e malandra de ziguezaguear entre o sim, o não e o talvez.
Menos do que o fim do Consenso de Washington celebrado por
Gordon Brown, talvez estejamos
assistindo à sua "brasilianização".
O tema da "brasilianização do
mundo" tem sido um tópico recorrente da sociologia. Quem, por aqui,
recenseou suas várias dimensões
num ensaio corrosivo foi o filósofo
Paulo Arantes ("A Fratura Brasileira do Mundo", do livro "Zero à Esquerda"), que, ainda em 2001, dizia:
"Na hora histórica em que o país do
futuro parece não ter mais futuro
algum, somos apontados, para o
mal ou para o bem, como futuro do
mundo". O colapso em curso tornou essa comédia ainda mais atual.
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