São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

À mineira

BRASÍLIA - Hugo Chávez é um líder militar, de um país rico, alavancado pelo petróleo. Evo Morales é um líder indígena, de um dos países mais pobres do continente, dependente do gás. Petróleo é petróleo, gás é gás. As reservas petrolíferas bolivianas não chegam perto das venezuelanas.
Pois bem. Enquanto as atenções e expectativas se concentravam na Venezuela e em Chávez, quem surpreende são a Bolívia e Morales. E não apenas a imprensa, mas até o governo brasileiro -positivamente.
As eleições regionais do final de semana confirmam que Morales já passou pelo pior. Enfrentou grandes empresas estrangeiras, a começar da Petrobras e da EMX brasileiras; confrontou os líderes "autonomistas" das regiões mais ricas; conseguiu mudar a Constituição e imprimir novos valores, até novos símbolos, para uma Bolívia que é indígena na história e na alma.
Na política, o sucesso de Morales pode ser resumido na sua reeleição, no final do ano passado: ele teve 64% dos votos, um recorde incomparável nos últimos 50 anos no país.
E ninguém mais parece ter força para retomar a pressão pela autonomia das Províncias.
Na economia, os números são favoráveis: 3,7% de crescimento em 2009, ano de crise, inflação em 4% e reservas internacionais em US$ 8,5 bilhões, para uma dívida externa de U$ 2,5 bilhões. Nada mal.
Agora, é transformar tudo isso em credibilidade externa, para atrair investimentos, industrializar o país e construir infraestrutura. A hora é esta. Inclusive por causa da comparação: se a Bolívia é ascendente, a Venezuela vive racionamento de energia, divisão polícia, recessão. Sem falar na prisão de adversários e donos de TV.
Se você fosse investidor e quisesse apostar em hidrelétricas, petroquímicas, estradas, pontes e novos polos agrícolas, iria para a Venezuela ou para a Bolívia? O governo brasileiro, a Petrobras e a EMX já têm a resposta pronta.

elianec@uol.com.br


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