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CARLOS HEITOR CONY
Cabo eleitoral
RIO DE JANEIRO - Com o início
da campanha presidencial tudo parece estar dentro da normalidade
legal e democrática. A única sombra
que se destaca no horizonte é a participação de Lula no processo. A boa
norma republicana estabelece que
o presidente em exercício deve se
comportar como um magistrado,
embora tenha ele, como simples
eleitor, sua preferência por determinado candidato. Um direito seu e
de qualquer outro cidadão.
Acontece que Lula, como mentor
absoluto do PT e presidente da República, praticamente impôs a seu
partido e às forças que apoiam seu
governo a candidatura de sua principal auxiliar no governo. Até agora,
nas lides preliminares da campanha, Dilma Rousseff não tem palanque próprio, usa o palanque oficial,
sempre ao lado do presidente e
sempre citada por ele.
De agora em diante será diferente. Bem verdade que Lula pode renunciar ao resto de seu mandato
para se tornar o mais destacado cabo eleitoral de sua candidata. Com
os índices de aprovação de seu governo, seria uma barbada. Sua presença e sua palavra em qualquer comício, em qualquer canto do território nacional, seria um fator preponderante para a vitória de Dilma.
Como presidente da República,
ele terá se controlar, não poderá ser
chefe do Executivo e ao mesmo
tempo cabo eleitoral, distribuindo
santinhos e flâmulas da candidata
de sua preferência.
O mais sensato e ético seria a renúncia aos poucos meses de mandato, descendo à planície para lutar
em igualdade de condições com outras candidaturas.
Será pedir muito de Lula: uma renúncia para que ele possa livremente lutar para fazer Dilma Rousseff
sua sucessora. Acumulando em sua
pessoa a Presidência e a faina eleitoral, ele pode até vencer, mas perderá a oportunidade de dar um bom
exemplo de cidadania.
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