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CLÓVIS ROSSI
Quando se perde a honra
BRUXELAS - O jornal espanhol "El
País" relata, em sua edição de ontem,
que a polícia espanhola investigava a
chamada "pista islâmica" desde os
primeiros momentos pós-atentados
de 11 de março, que mataram 191 pessoas.
Enquanto isso, o governo de José
María Aznar insistia, nas 48 horas
seguintes, em dizer que a principal
pista era a do terrorismo basco. Manipulação clara, agora exposta com
todas as letras. Se o terrorismo basco
fosse de fato o responsável, haveria
prejuízos eleitorais para os socialistas, acusados de brandura no trato
com o ETA (Euskadi Ta Askatasuna
ou Pátria Basca e Liberdade).
Menos mal que, 72 horas após o
atentado, nas eleições gerais do dia 14
de março, os espanhóis preferiram os
socialistas, apesar de Aznar ter uma
performance econômica realmente
muito boa.
Ou, posto de outra forma, os espanhóis não votaram com o bolso, mas
por um valor republicano difícil de
medir, qual seja, o dever de o governante dizer a verdade.
O eleitorado norte-americano tem,
agora, a chance de ouro de fazer valer esse e outros valores republicanos
na eleição de novembro. O presidente
George W. Bush não só mentiu sobre
a existência de armas de destruição
em massa no Iraque de Saddam Hussein como permitiu a instalação na
base de Guantánamo de uma máquina de violar direitos humanos
que, como era previsível, agora estende seus braços ao Iraque.
O já citado "El País" informa, também ontem, que "foi uma equipe chegada de Guantánamo, no verão passado, que supervisionou o interrogatório dos presos iraquianos" (os dos
vídeos mostrando torturas, abusos e
humilhações).
Tudo somado, o governo Bush está
pondo a perder a vantagem moral
que toda democracia, em tese, deveria ter sobre terroristas, ditadores e
cia. Ou há o respeito a valores que a
civilização foi consagrando ou se perde a honra no percurso, como fez o
governo Aznar.
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