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TORTURA NO IRAQUE
Pode ser verdade que a tortura
não é a política oficial dos EUA
para o Iraque, mas não há muitas dúvidas de que a política oficial dos
EUA para o Iraque leve à tortura. O
presidente George W. Bush, para
tentar justificar sua injustificável invasão, criou falsos pretextos e procurou imprimir uma lógica maniqueísta ao conflito: para muitos norte-americanos, notadamente os jovens
militares, tratava-se de uma luta do
bem contra o mal, do "american
way" contra a "barbárie islâmica".
Nesse contexto, não chega a ser
uma surpresa que a mensagem
transmitida pelo presidente Bush
quando afirma ser preciso aplicar todos os esforços na luta contra o terrorismo soe para o jovem recruta improvisado em carcereiro em Bagdá
como uma "licença para torturar".
Acrescente-se a essa lógica de insinuações e interpretações peculiares a
forte carga antiárabe transmitida pelo noticiário e pelos filmes de Hollywood e temos a receita para o pau-de-arara. Não é de hoje que terroristas muçulmanos e ditadores árabes
substituíram nazistas e comunistas
no papel de vilões cinematográficos.
E ninguém -nem nenhum grupo-
é retratado tão repetidas vezes como
bandido sem de fato se torná-lo no
imaginário da população.
A invasão ao Iraque, que teve como
um de seus pretextos a deposição de
um ditador que torturava e matava na
prisão de Abu Ghraib, acaba de ganhar um novo símbolo: a mesma
Abu Ghraib, onde se tortura e se mata, mas agora sob gerência americana, e não mais de Saddam Hussein.
Felizmente, a reação da opinião pública à brutalidade, que começou tímida na semana passada, logo após
a revelação das primeiras fotografias
pela rede de TV CBS, ganhou corpo,
e a responsabilidade do governo e do
Pentágono nos casos de maus-tratos
se transformou no principal destaque do noticiário político/militar. Espera-se que esses lamentáveis episódios dêem aos norte-americanos a
oportunidade de refletir e de perceber que não são "os caras bons lutando contra os caras maus" e que o
mundo é um lugar um pouco mais
complexo do que o presidente Bush e
o mau cinema sugerem.
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