São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Culpado número 1

BRASÍLIA - Reação do ministro José Dirceu (Casa Civil) quando lhe perguntam o que vai acontecer com a Varig: "Não tenho nada a ver com isso. Perguntem ao Zé Alencar".
É uma espécie de senha para culpar o vice-presidente pelo impasse nas negociações para tentar salvar a principal companhia aérea brasileira. Aliás, nem tanto. A Varig já teve 40% do mercado doméstico em 2001, mas foi ultrapassada pela TAM e está sendo também pela Gol. Seu trunfo é ter 62% das rotas internacionais.
Durante dois anos e quatro meses, sem falar na gestão FHC, o governo procura soluções para manter a marca Varig no ar. Intervém nela ou não? Funde-a ou não com a TAM? Separa ou não a "parte boa" da "podre"? Aplica a Lei de Falências ou o Código Brasileiro de Aeronáutica? Cada um tinha uma resposta.
Alencar pegou o bonde andando, ou o avião voando, e jogou fora o projeto Dirceu-Viegas (seu antecessor). Palocci não queria usar recursos públicos numa empresa privada mal gerenciada. Os órgãos de defesa da concorrência também não. O BNDES nunca se esforçou. Com a queda de Viegas, e Dirceu lavando as mãos, Alencar acabou sozinho.
Antes refratário à intervenção, agora ameaça com ela para pressionar a Varig por uma proposta factível, apresentando investidores. Falava-se em Nelson Tanure (Jornal do Brasil) e em German Efromovich (Ocean Air). Hoje fala-se na TAP, a estatal de aviação de Portugal. Mas o governo ouve tudo isso com desconfiança.
Na Varig, todos (Ruben Berta, acionistas e funcionários) brigam com todos. No governo, são todos (Planalto, Fazenda, Infraero, BNDES e Justiça) contra um (Alencar).
Se já estava isolado por cutucar Palocci, Meirelles e os juros, e se já estava na corda bamba porque Lula pode oferecer a vice ao PMDB em 2006, Alencar arranjou mais uma boa encrenca com essa história de Varig.
E os passageiros? Apertem os cintos!

@ - elianec@uol.com.br


Texto Anterior: Paris - Clóvis Rossi: A novela "Brasil"
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Nelson Motta: Patrulhas sexuais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.