São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2005

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NELSON MOTTA

Patrulhas sexuais

RIO DE JANEIRO - Os Estados Unidos cancelaram uma doação de US$ 48 milhões para os programas brasileiros de combate à Aids porque nosso governo se recusou a excluir as prostitutas dos programas de prevenção e tratamento como queriam os americanos, que, na era Bush, fazem uma espécie de "seleção moral" para a sua "generosidade". Para eles, quem vive de alugar seu corpo, sua companhia e seus serviços sexuais não merece ajuda para sobreviver à doença mortal. Mesmo que a contaminação e a morte desses pecadores contribua para multiplicar a epidemia que atinge a todos, principalmente aos moralistas hipócritas. Bem, aí já é mais que radicalismo religioso, é pura estupidez.
A prostituição é proibida por lei em todos os Estados americanos, menos em Nevada. Um flagrante dá prisão e multa para ela e para o seu cliente. O fato vai para a folha corrida dos infelizes, atrapalha-lhes a vida para sempre. E muita gente, muita mesmo, é presa por esse "delito". Um exemplo atual, amplamente conhecido (e temido) nos Estados Unidos: o cidadão está andando na rua e uma louraça gostosona e muito maquiada estende um cigarro, pergunta se ele tem fogo, e pisca o olho. Ele acende, ela se oferece para um programa por US$ 50. Ele aceita entusiasmado e paga adiantado. Ela saca uma carteira da polícia, dá-lhe voz de prisão e o leva algemado para a delegacia. Ele é processado e condenado. Acontece todos os dias no país inteiro. Por pressão da direita religiosa, que contamina o governo Bush com seu moralismo e sua hipocrisia e ainda acha que fundamentalistas e primitivos são os muçulmanos ...
Em vários Estados americanos, a sodomia, mesmo entre marido e mulher, não só é um pecado mas um delito punível com prisão e multa. Difícil é dar um flagrante ...
Quando a ignorância se junta à intolerância e o fanatismo religioso invade o Estado, a democracia corre sério perigo.


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