São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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MAIS UM

Passou o tempo em que revelações como as feitas pela chamada Operação Sanguessuga seriam capazes de deixar o leitor pálido de espanto ou rubro de indignação.
A Polícia Federal desvenda um esquema de aquisições de ambulâncias a preço superfaturado; 46 pessoas são presas, entre elas dois ex-deputados (Ronivon Santiago e Carlos Rodrigues), além de assessores de uma dezena de parlamentares federais e funcionários de quatro ministérios.
Mesmo considerando a crônica desmoralização que caracteriza o Congresso e o Executivo, o escândalo tem dimensões consideráveis. Cerca de R$ 50 milhões foram desviados, ao longo de cinco anos de operações bem-sucedidas.
Não menos do que 75 prefeituras participavam do negócio: graças à intervenção de parlamentares em Brasília, obtinham a liberação de recursos no Orçamento da União para comprar as ambulâncias. Em tese, os veículos seriam equipados como verdadeiras UTIs; na prática, dispunham de uma simples maca. A diferença entre a verba liberada e o custo real das ambulâncias escoou-se entre os beneficiários do esquema.
De Ney Suassuna, líder do PMDB no Senado, à deputada Edna Macedo (PTB-SP), passando por representantes do PFL, do PL e do PMDB, só se registram alegações de inocência por parte daqueles parlamentares cujos assessores foram postos atrás das grades.
Institucionalmente, o Congresso tem obrigação de investigar mais este alarmante conjunto de suspeitas a pesar sobre vários de seus membros. É todavia notório, a partir das seguidas absolvições dos envolvidos no caso do mensalão, que o clima no Parlamento favorece a cumplicidade corporativa e a conivência com o crime organizado.
Tem-se a impressão de que o caso das ambulâncias será apenas um, entre dezenas de outros semelhantes, e que depende de se incidirem as atenções policiais sobre qualquer âmbito das atividades do Estado para que novos escândalos, comprometendo novos nomes, e também os já conhecidos, venham a surgir.
Se a corrupção atinge ou não níveis inéditos na história do país, é difícil dizer. Sem dúvida, a Polícia Federal e o Ministério Público têm obtido mais resultados em suas investigações; ganho de eficiência que seria, sem dúvida, boa notícia, não tivesse a contrabalançá-lo doses equivalentes de cinismo, por parte dos acusados, e de indiferença, por parte de setores crescentes da população.


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