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MAIS UM
Passou o tempo em que revelações como as feitas pela chamada Operação Sanguessuga seriam
capazes de deixar o leitor pálido de
espanto ou rubro de indignação.
A Polícia Federal desvenda um esquema de aquisições de ambulâncias
a preço superfaturado; 46 pessoas
são presas, entre elas dois ex-deputados (Ronivon Santiago e Carlos Rodrigues), além de assessores de uma
dezena de parlamentares federais e
funcionários de quatro ministérios.
Mesmo considerando a crônica
desmoralização que caracteriza o
Congresso e o Executivo, o escândalo tem dimensões consideráveis.
Cerca de R$ 50 milhões foram desviados, ao longo de cinco anos de
operações bem-sucedidas.
Não menos do que 75 prefeituras
participavam do negócio: graças à
intervenção de parlamentares em
Brasília, obtinham a liberação de recursos no Orçamento da União para
comprar as ambulâncias. Em tese,
os veículos seriam equipados como
verdadeiras UTIs; na prática, dispunham de uma simples maca. A diferença entre a verba liberada e o custo
real das ambulâncias escoou-se entre
os beneficiários do esquema.
De Ney Suassuna, líder do PMDB
no Senado, à deputada Edna Macedo
(PTB-SP), passando por representantes do PFL, do PL e do PMDB, só
se registram alegações de inocência
por parte daqueles parlamentares
cujos assessores foram postos atrás
das grades.
Institucionalmente, o Congresso
tem obrigação de investigar mais este alarmante conjunto de suspeitas a
pesar sobre vários de seus membros.
É todavia notório, a partir das seguidas absolvições dos envolvidos no
caso do mensalão, que o clima no
Parlamento favorece a cumplicidade
corporativa e a conivência com o crime organizado.
Tem-se a impressão de que o caso
das ambulâncias será apenas um,
entre dezenas de outros semelhantes, e que depende de se incidirem as
atenções policiais sobre qualquer
âmbito das atividades do Estado para
que novos escândalos, comprometendo novos nomes, e também os já
conhecidos, venham a surgir.
Se a corrupção atinge ou não níveis
inéditos na história do país, é difícil
dizer. Sem dúvida, a Polícia Federal e
o Ministério Público têm obtido
mais resultados em suas investigações; ganho de eficiência que seria,
sem dúvida, boa notícia, não tivesse a
contrabalançá-lo doses equivalentes
de cinismo, por parte dos acusados,
e de indiferença, por parte de setores
crescentes da população.
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