São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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Depois da chuva

Lagos de hidrelétricas se recuperam, mas governo deveria tomar medidas preventivas a fim de evitar apagão à frente

A ESTAÇÃO chuvosa, embora tardia, recuperou os principais reservatórios hidrelétricos do país. À exceção da região Sul, que enfrentava uma seca, o nível de água armazenada para gerar energia elétrica em março deste ano já estava 70% acima do preocupante índice de dezembro passado no sistema Sudeste/Centro-Oeste. No Nordeste, onde lagos estavam bastante vazios, o salto foi de 150%.
As chuvas, aliadas ao acionamento emergencial de geração térmica, diluíram bastante o risco de um racionamento no curto prazo. Além disso, a temperatura amena do último mês de verão ajudou a refrescar a demanda por eletricidade, que cresceu apenas 3,1% sobre março de 2007, bem menos que o ritmo de acréscimo acumulado em 12 meses, de 5,5%.
A sorte ajudou, portanto, mas é imprudente manter a política energética tão atrelada aos humores atmosféricos, que vez ou outra pregam peças. Por mais que tenha se recuperado, o nível dos reservatórios hidrelétricos dificilmente vai começar o estio exibindo as altas cifras do ano passado. A partir de 2009, caso o ritmo de crescimento do PIB se sustente, o país começará a adentrar uma zona em que o risco de faltar energia é maior.
Há algumas boas notícias recentes a respeito seja do suprimento de gás natural, combustível de usinas térmicas, seja das licitações para grandes hidrelétricas na Amazônia. Mas há, igualmente, fatos muito preocupantes. Como informou ontem este jornal, metade das 508 geradoras prometidas por empreendedores diversos à Agência Nacional de Energia Elétrica não tem previsão para início de operação. Outra fatia ponderável, de 18%, registra atraso nas obras.
O governo se defende e diz que só considera em seu planejamento as usinas cuja consecução no prazo previsto seja provável. Mesmo sob esse critério conservador, argumenta, não vai faltar energia. O problema é que, nesse setor, até os pressupostos climáticos e os empreendimentos mais "seguros" estão sujeitos a níveis razoáveis de incerteza -atraso em licitações, suspensão de obras, chuvas muito aquém da média etc.
Um modo prático de aumentar a segurança no suprimento de eletricidade seria relançar um programa nacional de conservação de energia, com incentivos financeiros à diminuição do consumo. Outra ação prudencial seria reformar o parque hidrelétrico para elevar, com baixo investimento e rápida maturação, a sua capacidade geradora.


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