|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Humores extremos
Onda de otimismo nas finanças traz os exageros de sempre e não traduz quadro de retomada econômica lenta e parcial
O HUMOR dos investidores, estrangeiros e domésticos, passa de depressivo a eufórico
com a divulgação de sinais de recuperação da atividade econômica em alguns países.
Melhoras discretas e pontuais
em indicadores que vão das vendas de casas nos Estados Unidos
à produção industrial chinesa
dão pretexto a um surto global de
compra de ações e apostas em
operações tidas como mais arriscadas. Beneficiária desse processo, a Bovespa subiu 7,5% nos últimos dois pregões e já acumula
35% de alta no ano.
Além de impulsionar as Bolsas,
o veranico financeiro repercute
diretamente nos preços de produtos básicos, as chamadas commodities. O barril do petróleo ultrapassou os US$ 54, maior patamar desde dezembro. E as moedas de países emergentes -grandes produtores de commodities
e relativamente menos afetados
pela crise- voltaram a apresentar valorizações bruscas.
Tanta voracidade levou o Banco Central brasileiro a intervir
no câmbio com orientação oposta à que adota há seis meses. Ontem o BC comprou divisa americana no pregão que negocia valores futuros do dólar. O objetivo é
evitar oscilações violentas na cotação do real -fenômeno que,
seja para cima, seja para baixo,
sempre produz vítimas e transtorna a gestão das empresas.
A prudente intervenção do BC
indica que as autoridades brasileiras resistem ao canto de sereia. O comportamento errático
dos mercados financeiros -traço exacerbado em períodos de
crise- não serve de parâmetro
para nada que seja relevante na
política econômica. A divulgação
do desempenho da indústria doméstica no primeiro trimestre
do ano revela um retrato muito
mais fidedigno da situação.
De outubro de 2008 a março
deste ano, a produção fabril acumulou retração de 16,7% sobre o
período imediatamente anterior. Após esse tombo gigantesco, alguma melhora a partir de
fevereiro e, principalmente,
março de 2009 pode ser verificada nas estatísticas publicadas
ontem pelo IBGE.
A recuperação que se vislumbra, contudo, não se parece em
nada com a volta da bonança vigente até setembro. Prenuncia-se correção paulatina da reação
exagerada que os mercados financeiros induziram na economia brasileira logo após o colapso, naquele mês, do banco americano Lehman Brothers. Mas algumas sequelas tendem a permanecer por mais tempo, caso
da queda abrupta do apetite pelas exportações brasileiras.
Tudo somado, a perspectiva de
curto prazo que se descortina,
caso não ocorra uma nova hecatombe externa, é uma retomada
lenta e parcial da atividade econômica doméstica. Um quadro
de otimismo moderado que, decerto, não encontra tradução na
linguagem extremista dos mercados financeiros.
Próximo Texto: Editoriais: Mudanças na Infraero
Índice
|