São Paulo, quarta-feira, 06 de maio de 2009

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Humores extremos

Onda de otimismo nas finanças traz os exageros de sempre e não traduz quadro de retomada econômica lenta e parcial

O HUMOR dos investidores, estrangeiros e domésticos, passa de depressivo a eufórico com a divulgação de sinais de recuperação da atividade econômica em alguns países.
Melhoras discretas e pontuais em indicadores que vão das vendas de casas nos Estados Unidos à produção industrial chinesa dão pretexto a um surto global de compra de ações e apostas em operações tidas como mais arriscadas. Beneficiária desse processo, a Bovespa subiu 7,5% nos últimos dois pregões e já acumula 35% de alta no ano.
Além de impulsionar as Bolsas, o veranico financeiro repercute diretamente nos preços de produtos básicos, as chamadas commodities. O barril do petróleo ultrapassou os US$ 54, maior patamar desde dezembro. E as moedas de países emergentes -grandes produtores de commodities e relativamente menos afetados pela crise- voltaram a apresentar valorizações bruscas.
Tanta voracidade levou o Banco Central brasileiro a intervir no câmbio com orientação oposta à que adota há seis meses. Ontem o BC comprou divisa americana no pregão que negocia valores futuros do dólar. O objetivo é evitar oscilações violentas na cotação do real -fenômeno que, seja para cima, seja para baixo, sempre produz vítimas e transtorna a gestão das empresas.
A prudente intervenção do BC indica que as autoridades brasileiras resistem ao canto de sereia. O comportamento errático dos mercados financeiros -traço exacerbado em períodos de crise- não serve de parâmetro para nada que seja relevante na política econômica. A divulgação do desempenho da indústria doméstica no primeiro trimestre do ano revela um retrato muito mais fidedigno da situação.
De outubro de 2008 a março deste ano, a produção fabril acumulou retração de 16,7% sobre o período imediatamente anterior. Após esse tombo gigantesco, alguma melhora a partir de fevereiro e, principalmente, março de 2009 pode ser verificada nas estatísticas publicadas ontem pelo IBGE.
A recuperação que se vislumbra, contudo, não se parece em nada com a volta da bonança vigente até setembro. Prenuncia-se correção paulatina da reação exagerada que os mercados financeiros induziram na economia brasileira logo após o colapso, naquele mês, do banco americano Lehman Brothers. Mas algumas sequelas tendem a permanecer por mais tempo, caso da queda abrupta do apetite pelas exportações brasileiras.
Tudo somado, a perspectiva de curto prazo que se descortina, caso não ocorra uma nova hecatombe externa, é uma retomada lenta e parcial da atividade econômica doméstica. Um quadro de otimismo moderado que, decerto, não encontra tradução na linguagem extremista dos mercados financeiros.


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